Práticas discursivas acerca do poder decisório da mulher no parto

Abstract

Este artigo analisou o poder decisório da mulher no parto expresso nas práticas discursivas de enfermeiras e médicos residentes da área de obstetrícia. Estudo qualitativo com 22 residentes de uma maternidade. Os dados foram coletados por meio de entrevistas e submetidos à análise do discurso à luz de Michel Foucault. As práticas discursivas enfocam o controle dos riscos e a normalização do comportamento cooperativo da parturiente, culminando em restrições no poder decisório das mulheres. Também valorizam a humanização do parto, por meio do protagonismo e da corresponsabilização feminina, o que tensiona o saber-poder médico. Evidenciou-se que há ancoragem na medicalização, reproduzida pelo ensino de obstetrícia, e na lógica neoliberal, associando o autogoverno das mulheres ao consumo. Autonomia e saúde como direitos precisam ser fortalecidos pelos atores sociais do ensino e da assistência em obstetrícia.

Ações de humanização das enfermeiras obstétricas mineiras

“…Na análise foucaultiana, o controle social disseminado no discurso médico envolve a premissa de um "ideal de saúde", cujo saber-poder assegura uma autoridade sobre a vida. Assim dizendo, esse fenômeno legitima os discursos instituídos pela medicina e repercute na perda da autonomia dos indivíduos ao estabelecer um domínio político-médico sobre a gestão da vida e dos corpos, de modo que o paciente passa a assumir uma condição subordinada (7) . Sob essa ótica, o discurso do controle de risco, produto do saber-poder da medicalização embasado no argumento da segurança, molda atitudes intervencionistas em relação ao corpo feminino durante a parturição.…”

“…Hoje, o país é um dos líderes mundiais em cesarianas, com uma taxa de 55% no sistema público e 86% no setor privado de assistência à saúde, contrariando a taxa de referência ajustada para a população brasileira, que é de 25% a 30% (6) .No entanto, desde 1980, com o movimento de humanização do parto e do nascimento, transcorre, no cenário brasileiro, uma busca pela redução das elevadas taxas de partos cirúrgicos. A humanização se pauta no protagonismo restituído à mulher, com ampliação da participação feminina na assistência à saúde, com responsabilidade e liberdade, e na atenção integral e interdisciplinar, a partir de evidências científicas (4,7) .…”

A voz da mulher não especialista na (co)autoria de planos de parto: estratégias de acesso à escrita do gênero

“…A importância dessas ações, segundo Pasqualotto (2016), é promover diálogos entre conhecimento científico e as lutas da população pela saúde. Conforme apontado por Mauadie et. al.…”