“…A partir de Hughes (1951), a reflexão de Lhuilier (2005) sobre a dimensão da delegação, que constitui a noção de trabalho sujo, pode ser útil para compreendermos a construção simbólica dessas atividades, ao afirmar que muitos tabus e escrúpulos morais estão relacionados ao fato de que determinadas atividades são "empurradas" para aqueles que não podem recusá-las, aqueles que não estão em condições de escolher. Conforme afirmamos anteriormente, trabalhadores e trabalhadoras vivem com medo e se sujeitam a relações de submissão e humilhação no trabalho (Dejours, 1987;Jost et al, 2014), diante da possibilidade de perder a mínima segurança social que o trabalho pode oferecer. Nesse sentido, o trabalho do migrante parece ser considerado, em situações específicas que envolvem tarefas, condições e situações desqualificadas e desvalorizadas, como um "trabalho sujo" (Hughes, 1951), atravessado também por xenofobia, preconceito racial e socioeconômico (Barros, 2017).…”