Resumo Desde o seu nascimento na medicina cirúrgica do século XVII, a pesquisa do trauma admitiu interpretações múltiplas e associadas ora às lesões visíveis de órgãos e tecidos, ora à influência de agentes psíquicos patogênicos sobre a memória, a consciência e a personalidade. Com o aprofundamento do papel dos sistemas classificatórios desde DSM-III, o fenômeno do trauma será incorporado ao prisma psiquiátrico através do Transtorno de Estresse Pós-Traumático e destinado, finalmente, à circunscrição da pesquisa neurocientífica. A partir de revisão narrativa, este artigo abordará uma das premissas epistemológicas fundamentais para essa transição, que informa como o trauma psicológico ganhou autonomia sobre as descrições anatômicas para ser, cerca de um século depois, por ela reanexado enquanto fenômeno essencialmente corporal e aderido à gramática das neurociências.