ResumoO objetivo do texto é discutir aspectos da história socioeconômica e linguística da sociedade brasileira. Busca-se analisar os efeitos sociolinguísticos da formação mercantilista escravocrata, própria do período colonial; do capitalismo industrial e do capitalismo tardio. O texto se fundamenta numa ampla revisão bibliográfica e mostra que a sociedade brasileira do século XXI alberga, conflituosamente, os efeitos socioeconômicos e linguísticos da formação colonial, do desenvolvimento precário do capitalismo industrial e dos desafios trazidos pelo capitalismo tardio.Palavras-chave: Português brasileiro; História socioeconômica; História linguística.
AbstractThe aim of this article is to discuss aspects of the socioeconomic and linguistic history of the Brazilian society. It offers an analysis of the sociolinguistic effects of the slave-based mercantilist formation, proper to the colonial period; of industrial capitalism and of late capitalism. The text is based on an extensive bibliographic review and it demonstrates that present Brazilian society harbors, in conflicting relationship, the socioeconomic and linguistic effects of the co-Diadorim, Rio de Janeiro, vol. 20 -Especial, p.23-52, 2018.
25diferentes ilhas socioeconômicas foram (entre parênteses, a data da respectiva fundação): São Vicente (1532)/São Paulo (1554), Olinda (1535)/Recife (1537), Salvador (1550), São Luís (1612)/Belém (1616). Posteriormente, com a descoberta do ouro em Minas, o Rio de Janeiro, fundado em 1565, foi adquirindo especial relevância a ponto de se tornar, em 1763, a capital do Estado do Brasil. Era o principal porto de saída do ouro para Portugal e o núcleo urbano de referência da progressiva ocupação do vale do rio Paraíba do Sul, região que concentrou as fazendas de café -cultura que, introduzida no século XVIII, se transformou na principal fonte de riqueza do Brasil no século XIX e início do XX. Por tudo isso, o Rio de Janeiro acabou por se tornar também o principal porto do tráfico de escravizados africanos até sua efetiva abolição em 1850, depois de 40 anos de delongas e chicanas legais e jurídicas (cf. MAMIGONIAN, 2017; SCHWARCZ & GOMES, 2018). Olinda foi a cidade-sede da Capitania de Pernambuco, região onde se desenvolveu com sucesso o plantio extensivo da cana-de-açúcar e donde partiu a progressiva ocupação do litoral e do interior do Nordeste. A cidade, e parte da região açucareira, foi invadida e ocupada no século XVII pelos holandeses da Companhia das Índias Ocidentais como parte de seu projeto de dominar a produção e o comércio mundial do açúcar. Ali permaneceram de 1630 a 1654. Estiveram também envolvidos, nesse mesmo período, com o tráfico de escravizados africanos, tendo, para isso, ocupado vários entrepostos portugueses da costa da África, Angola inclusive. De São Vicente, por sua vez, partiu a ocupação do litoral sul e, posteriormente, de São Paulo, a ocupação do interior: o vale do rio Tietê, o Sul, o Centro-Oeste e o sertão de Minas Gerais, onde, no fim do século XVII, foi descoberto ouro, alterando substancial...