A forma nervosa da doença de Chagas é quase tão antiga quanto a própria tripanosomíase, desde que nos reportemos aos conceitos originalmente formulados pelo descobridor da moléstia 12 . Já em 1913, Carlos Chagas 13 afirmava ser esta doença "a que talvez provoque, em patologia humana, o maior número de afecções orgânicas do sistema nervoso central" e que, àquela época, possuía "mais de 200 observações desse tipo". Entre tais, incluía a diplegia cerebral espástica, síndrome de Little, convulsões, paralisia pseudobulbar, afasia, ataxia cerebelar, idiotia, infantilismo e atetose. Referia-se ele, obviamente, às formas nervosas crônicas, em contraposição às agudas, segundo sua própria postulação.Não obstante tão firme convicção por parte do eminente cientista, que se dizia estribar inclusive em evidências anatomo-patológicas (presença dos tripanosomas nas lesões cerebrais), e mais o suporte oferecido por Borges Fortes 6 , ao fazer a mesma constatação, por necrópsia, em um caso com manifestações neurológicas crônicas estacionárias, os investigadores que lhes sucederam nem sempre endossaram este conceito, alguns chegando mesmo a negarem a existência de dita forma nervosa.Laranja e col. 38 , baseados na experiência adquirida em Bambuí (MG), com mais de 600 casos estudados, sugeriram uma sistematização das formas clinicas da esquizotripanose e destacaram o fato de não terem encontrado casos classificáveis como forma nervosa crônica. Couto e col. 15 , ao abordarem o tema, por ocasião do I Congresso da Academia Brasileira de Neurologia, realizado em Ribeirão Preto (SP), salientaram "a discrepância de opiniões, pois técnicos de prol, em número crescente, negam enfaticamente a realidade das formas nervosas do período crônico", citaram especificamente as publicações de Maciel e Pedreiras de Freitas neste sentido e concluíram que "a lição dos autores impugna-a, à mingua de fiel comprovação anatômica".Contudo, à luz de importantes trabalhos surgidos nos últimos anos, principalmente no campo da Patologia -experimental e humana -recrudesceu o interesse pelos aspectos neurológicos da tripanosomíase, abrindo^se nova e promissora perspectiva de elucidação de tais controvérsias, que perduram há sete décadas. Assim, Koberle e sua escola de Ribeirão Preto demonstraram à saciedade a destruição neuronal ao longo do eixo encéfalo-medular na doença Relatório apresentada ao Congresso Internacional sobre Doença de Chagas realizado no Rio de Janeiro, de 22 a 28 de julho de 1979. Universidade de Brasília: * ProfessorAssistente; ** Professor-Adjunto; *** Professor-Titular. Também no âmbito da clínica, importantes contribuições enriquecem a literatura especializada. Vieira 50 , ao discutir a sintomatologia polimorfa, de "cunho neurótico", que freqüentemente é apresentada pelos portadores da forma crônica da moléstia de Chagas, interpretou-a fisiopatologicamente e reconheceu nesse conjunto de sintomas, aparentemente sem um substrato anatômico, forma clínica bem individualizada, que denominou "forma neuro-vegetativa". Vieira 51 ' 52 , com base em c...