O presente trabalho investiga a maneira como Platão transformou discursivamente sua Apologia de Sócrates em texto protréptico. Trata-se de uma hipótese que concebena "forma" como o texto é escrito -um caminho para se compreender o "conteúdo exortativo" da defesa socrática. Sob esse ângulo, a interpretação que se segue é entender o gênero judiciário exibido no enredo não apenas enquanto instrumento agonístico, do qual Platão se apropria com o intuito que seu personagem Sócrates, na condição de réu, empreendesse uma arguição adequada no tribunal. Assim, além desse aspecto litigioso, argumenta-se aqui que o gênero judiciário, por intermédio de expedientes retóricos e dramáticos, fornece para a argumentação geral da obra uma função educativa (de conversão pedagógica), que induz o leitor (ou ouvinte) a nutrir interesse pela "filosofia". Visando demonstrar de que modo isso se procede, a pesquisa divide-se em dois eixos, quais sejam: (i) o estudo acerca da temporalidade do discurso forense; (ii) a análise das características principais do cenário do tribunal. Com base nesses dois tópicos, observar-se-á como Platão ofertou a seu protagonista Sócrates uma performance multifacetada na trama, a saber: atuando tanto como orador que se defende das acusações, quanto como soldado designado por deus de Delfos a realizar uma elocução laudatória de sua atividade filosófica na cidade.