Este número do Jornal de Pediatria contém três artigos originais que enfocam a nutrição da criança e do adolescente, refletindo a importância do tema em nosso meio. De fato, o estado nutricional de uma população é um excelente indicador de sua qualidade de vida, espelhando o modelo de desenvolvimento de uma determinada sociedade. A boa nutrição de um povo está diretamente relacionada ao acesso a uma moradia decente, a uma alimentação adequada, à assistência médica, à educação, ao lazer, enfim, a uma vida digna. A Organização Mundial de Saúde recomenda o uso dos índices peso/idade, altura/idade, peso/ altura, perímetro braquial e peso ao nascer no diagnóstico de saúde e no monitoramento do estado nutricional de grupos populacionais.Embora tenham-se observado progressos no estado nutricional do povo brasileiro, como indicam os estudos realizados em meados da década de 70 (Estudo Nacional de Despesa Familiar) 1 e no final da década de 80 (Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição) 2 , em alguns locais, como na cidade de São Paulo, houve estagnação ou mesmo piora do estado nutricional de crianças menores de 5 anos 3 . Independentemente da evolução do estado nutricional de grupos populacionais, a desnutrição continua prevalente no Brasil, como mostra a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição realizada em todo o País no ano de 1989 2 :30,7% das crianças menores de cinco anos têm baixo peso para a idade, 15,4% apresentam retardo no crescimento (baixa altura/idade) e 2,0% possuem pouco peso para a sua altura. O Norte e o Nordeste são as regiões mais comprometidas, muito embora no Sul e no Sudeste o quadro seja igualmente sombrio nos bolsões de miséria. As estatísticas só vêm confirmar o que é visível no dia-a-dia: o problema crônico da fome.Mesmo cientes de que as deficiências nutricionais são um produto de um processo social e histórico e que para a sua erradicação são necessárias mudanças na organização política, social e econômica do País, o profissional de saúde não pode ficar inerte aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Ele pode diagnosticar, denunciar, intervir e, sobretudo, prevenir.Na prevenção da desnutrição, medidas simples como incentivo ao aleitamento materno e orientação quanto às práticas de alimentação infantil adequada estão ao alcance de qualquer profissional de saúde. A vigilância do estado nutricional desde o nascimento da criança é fundamental, uma vez que a chance de uma criança se recuperar de uma desnutrição é maior se a intervenção for precoce, mesmo nos casos mais graves 4 . Vários estudos têm demonstrado que é possível a recuperação da taxa de crescimento e mesmo da estatura final de uma criança com retardo no crescimento, dependendo da idade da criança na época do Veja artigos relacionados nas páginas 71, 80 e 85 A luta pela melhoria do estado nutricional de nossas crianças e adolescentes: não desertemos nosso posto!