A evasão nos cursos de graduação: como entender o problema? O Ensino Superior ainda é um privilégio de poucos no Brasil. Dados da Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD, 2019) mostram que apenas 21% dos brasileiros entre 25 e 34 anos têm Ensino Superior completo, uma parcela significativamente menor do que a média de 44% de diplomados nessa faixa de idade registrada entre os 45 países analisados no relatório da entidade. Estudos mostram ainda que, entre os concluintes, os estudantes com melhores condições socioeconômicas e maior capital cultural se diplomam em cursos de maior prestígio social, nas melhores universidades (as públicas), e alcançam melhores notas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (e.g., BEZZERA, 2019; ZUCCARELLI; HONORATO, 2018). Ainda que o atual cenário das universidades reflita as desigualdades sociais que permeiam a sociedade brasileira, os dados históricos indicam que vivemos um momento de transformação nos últimos anos. O Ensino Superior brasileiro foi amplamente expandido, o que é demonstrado pelo vertiginoso aumento na última década do número de matriculados tanto em universidades públicas como privadas (INEP, 2019). Além disso, a implementação de políticas de ações afirmativas possibilitou que, pela primeira vez, pessoas pretas sejam maioria entre os estudantes das universidades públicas brasileiras (IBGE, 2019) e que tenha praticamente dobrado o número de graduandos com renda familiar mensal per capita menor do que um e meio salário mínimo nas instituições públicas (ANDIFES, 2019). Mesmo que esses dados apontem importantes avanços no ingresso no sistema superior de ensino nacional, estudos indicam que, em muitos cursos, a probabilidade de se diplomar entre os ingressantes ainda depende das suas origens sociais (KNOP; COLLARES, 2019). Estudantes com rendas familiares mais altas têm, de modo geral, mais chances de conclusão; e ingressantes com pais de baixa escolaridade são menos propícios a concluírem cursos de alto retorno econômico (idem). Esses dados sugerem que, apesar de as ações afirmativas terem colaborado para diversificar o ingresso no Ensino Superior brasileiro, contribuindo, por exemplo, para uma maior representatividade de minorias nas universidades públicas, existem estudantes que enfrentam mais dificuldades para alcançarem a diplomação do que outros. Nas palavras de Vincent Tinto, um dos mais notáveis teóricos sobre evasão no mundo, "acesso sem suporte não é oportunidade" (2012, p. 117, tradução nossa). De fato, não é suficiente apenas promover o ingresso de minorias sociais nas universidades; o suporte financeiro, por exemplo, é fundamental. No entanto, engana-se quem assume que a falta de suporte material é, na perspectiva dos que evadem, a principal causa das suas decisões de abandonarem seus cursos de graduação. Estudos têm repetidamente evidenciado que, para os evadidos, fatores relacionados com as experiências vividas nas universidades são preponderantes na decisão de evadir (e.g., BRAGA;