“…Em torno do carro gravita um vasto repertório de imagens, regulamentos, moralidades e investimentos estéticos sem o qual seria impossível compreender tanto a perenidade quanto a ubiquidade planetária do sistema de automobilidade (Urry, 2004). Como materialização de uma lógica de mobilidade hierárquica, que fomenta a individualidade, a competição, a agressividade e a dominação pela velocidade do movimento (Virilio, 1996), o carro criou uma relação ambígua entre liberdade e sujeição: ao mesmo tempo que fornece a flexibilidade necessária à expansão territorial da cidade, impõe modelos de ocupação do espaço em que outras formas de se locomover são inibidas, subordinadas ou hostilizadas (Sheller e Urry, 2000;Giucci, 2004;Rolnik e Klintowitz, 2011;Moraglio, 2018), provocando um número absurdo de mortes e ferimentos a cada ano e por toda parte (Culver, 2018).…”