Minha querida mamãe, Um velho cozido de carne com molho engordurado E amargo ao longo do ano inteiro, Um prato de macarrões nadando em óleo, Ou então um prato de arroz do mesmo tipo, Resumindo, uma porcaria do começo ao fim. Eis o que me dão pelos seus vinte francos por dia, É realmente uma prova de loucura gastar assim esse dinheiro. Quanto ao quarto é a mesma coisa, não tem nada! Nem um edredom, nem uma bacia higiênica, Nada! Não quero de forma alguma continuar na primeira classe E peço a você, que quando receber essa carta, Faça que me voltem a por na terceira classe como antes Já que você teima, apesar dos meus protestos, A me deixar nessas casas de saúde, onde sou horrivelmente infeliz. Desprezando qualquer espécie de justiça, ao menos, economize seu dinheiro. Quais são suas intenções quanto a mim? Será que pretende me deixar morrer nesses asilos para alienados? Você é muito dura ao me recusar um abrigo em Villeneuve Eu não faria nem um escândalo como você pensa. Ficaria demasiada feliz só por retornar a vida comum, pra fazer qualquer coisa. Não ousaria me mexer nunca mais, de tanto que já sofri. Você disse que seria necessário alguém para cuidar de mim ? Como assim? Nunca tive uma empregada em toda a minha vida, foi você que sempre precisou. Se você me desse apenas o quarto da senhora Règnier e a cozinha, Poderia fechar o resto da casa, eu não faria absolutamente nada de repreensível, Já sofri demais para me recuperar. Você não vê que eles sempre mentem de propósito, para tirar o seu dinheiro? Recebi o chapéu... fica bem O casaco... é admirável! E o resto que você me mandou. Beijos Camille" (Carta sem data, escrita por Camille Claudel à sua mãe, durante internação em manicômio francês, onde permaneceu 30 anos até sua morte em 1943)