“…Vale ressaltar que as falas das entrevistadas da creche B sobre como lidar com a violência doméstica contra a criança, ao contrário da creche A, se basearam fundamentalmente em experiências concretas, o que permitiu aprofundar a análise dos sentidos mobilizados em relação à criança, à família e aos órgãos de proteção, diante de casos de violência nas famílias atendidas pela instituição.No que tange à violência institucional, constatamos que as funcionárias se posicionaram no sentido de: praticar atos violentos contra crianças na creche e/ou criticar, evitar a ocorrência do fenômeno no âmbito institucional.178A análise dos dados nos permite vislumbrar que as ações utilizadas pelas funcionárias, diante dos casos de violência doméstica contra a criança (ações junto à criança, à família e aos órgãos de proteção), e as ações das funcionárias em relação à violência institucional (evitando,criticando/praticando) estariam ancoradas nas configurações das redes de sentidos apresentadas no quadro e nas figuras a seguir.No que tange à ação da creche de conversar/orientar a família, avaliamos que a mesma tende a promover a vitimização da criança, na medida em que pode colocar a criança em risco e, concomitantemente, mobilizar a instituição na direção de não realizar a notificação dos casos aos órgãos de proteção (o que poderia se constituir como uma forma de manutenção da vitimização da criança na família).No entanto, observamos que, nas duas creches, houve uma associação entre a ocorrência do fenômeno e as famílias de camadas populares. Considerando que, de acordo com as funcionárias, a creche A atende famílias de camadas médias, e a creche B, famílias de camadas populares, acreditamos que tal concepção relativa à violência doméstica estaria agindo no sentido de dificultar (no caso da creche A) e facilitar (no caso da creche B) a identificação do fenômeno pelas funcionárias.Vale ressaltar queVagostello et al (2006), a partir de uma pesquisa realizada em 17 escolas do Estado de São Paulo com 149 profissionais da área de educação, para verificar as práticas das instituições diante de casos de violência contra a criança e o adolescente, constataram que os profissionais das escolas públicas relataram casos de violência doméstica entre os estudantes em proporções muito mais elevadas do que os de escolas particulares Delfino (2006),. a partir da realização de uma ampla pesquisa em Ribeirão Preto/São Pauloque tinha como objetivos investigar a percepção de professores do Ensino Fundamental sobre formas de educar e sobre a violência doméstica contra a criança, bem como a percepção de crianças do Ensino Fundamental sobre as ações dos adultos -verificou, por meio de relatos de 24 profissionais, que professores de escolas públicas detectaram um maior número de casos de violência doméstica contra os estudantes (75%) do que professores de escolas particulares(66,7%).…”