“…O risco cardiovascular no âmbito das características individuais se relaciona às condições de existência enquanto articulação entre as formas de ser, estar e pensar, que são indissociáveis do grupo social de pertença, remetendo ao modo pelo qual o indivíduo vivencia o mundo e, consequentemente, se comporta e realiza escolhas (Marques, Mendes e Serra, 2017)� Assim, entende-se que o processo de doença se estende a toda estrutura familiar, ao mesmo tempo em que o paciente se beneficia do suporte da família em relação à manutenção da saúde, tendo a díade conjugal como o principal sistema de apoio (Hutz, Bandeira, Trentini & Remor, 2019)� Para tanto, as estratégias terapêuticas devem levar em conta a compreensão e a aceitação de que o tratamento do IAM é crônico, contínuo e à longo prazo (Vieira et al�, 2017)� No estudo, os cuidados dos cônjuges aos infartados foram destacados como o principal fator de auxílio no enfrentamento do adoecimento� Preponderantemente, estes cuidados se revelaram de característica assistencial, englobando o fornecimento da terapia medicamentosa e de alimentação adequada, repreensão frente aos esforços físicos contraindicados, busca por atendimento médico e auxílio nas atividades laborais� Nesse mesmo sentido, na pesquisa de Vieira et al (2017) também foi identificado o suporte positivo do núcleo familiar no contexto do infarto, sobretudo o proveniente da esposa, manifestado em cuidados assistenciais� Na mesma linha, Garcia et al� (2016) sinalizam que a partir do IAM e dos cuidados decorrentes, as funções e tarefas desempenhadas pelos integrantes do domicílio podem ser afetadas e revistas� Isto indica que a dinâmica familiar e, principalmente, a conjugal, tem suas estruturas mobilizadas a partir do evento� Tais resultados se assemelham aos obtidos neste estudo, no qual identificou-se que, como resultado da mobilização intensa dos cuidados para com o adoecido, a dinâmica da relação foi modificada, sobretudo nos aspectos de autonomia dos membros e na redistribuição dos papéis sociais desempenhados� Em se tratando especificamente dos cônjuges, como modo de efetivar o cuidado, observaram-se tentativas de controle do comportamento do paciente, através de práticas autoritárias e infantilizadoras por parte das esposas� Deve-se destacar que o valor das práticas de cuidado deve estar pautado na manutenção do equilíbrio familiar no qual paciente e a família ponderem as ações, evitando a imposição de papéis hierarquizados artificialmente.…”