Patrimônio Festivo, Étnico E Terapêutico: Religiões Afro-Brasileiras E Cultura Quilombola

Abstract

Nos territórios quilombolas do município de Cachoeira, Bahia, observa-se um processo de florescimento cultural com algumas iniciativas de patrimonialização mobilizadas pelas comunidades. Nesse processo tem especial destaque a cultura afro-religiosa para uma parcela dessas comunidades, afinando-se a tendências mais amplas de inclusão gradual dos bens culturais das populações minoritárias, ampliando, assim, o escopo dos “bens culturais”. Neste artigo apresentamos algumas dessas iniciativas, a exemplo da Festa de São Roque e os peditórios da Esmola Cantada; de implantação do turismo étnico de base comunitária da Rota da Liberdade; de revalorização das terapêuticas tradicionais; e de mobilização político-cultural afro-religiosa da Festa da Ostra, locus de visibilização e inventividade de símbolos e experiências dessas comunidades. Nessas iniciativas, referentes materiais, sensoriais e estéticos afro-religiosos comparecem na fundamentação das “políticas de autenticidade” para a patrimonialização da cultura quilombola.

Itinerários terapêuticos de mulheres quilombolas do norte de Minas Gerais, Brasil

“…A promoção, prevenção e tratamento perpassam crenças e rituais adquiridos ao longo do tempo, presentes no sistema popular dessas comunidades. É importante ter um olhar ativo voltado ao conhecimento dos praticantes terapêuticos desses locais (benzedeiras, parteiras) no manejo de ervas medicinais encontradas no entorno das comunidades e sua utilização na manutenção da saúde das mulheres 34,35 .…”

“…O acompanhamento da gestação torna-se precário, a ponto de negligenciar a realização de exames básicos, como ultrassom obstétrico. O pré-natal que não é realizado de forma adequada pelas mulheres tem a importância de identificar precocemente doenças tanto da mãe quanto do feto, permitindo uma evolução gestacional saudável, com posterior redução de riscos durante o processo de parturição e puerpério, reduzindo a morbimortalidade materno-infantil 34 .…”

Therapeutic itineraries of quilombola women in northern Minas Gerais, Brazil

“…Promotion, prevention, and treatment are influenced by beliefs and rituals that have been accumulated over time and are present within the popular system of these communities. It is important to actively consider the knowledge possessed by therapeutic practitioners in these areas (blessers, midwives) in the handling of medicinal herbs found within the communities' surroundings, and their utilization for women's health maintenance [34][35] .…”

“…Pregnancy monitoring becomes subpar, reaching a point where basic tests such as obstetric ultrasounds are neglected. Proper prenatal care for women is essential for early identification of diseases in both the mother and fetus, enabling a healthy gestational development and subsequent reduction in risks during the childbirth and postpartum processes, leading to decreased maternal and child morbidity and mortality 34 .…”

Etnobotânica do benzimento em território baiano: revisão integrativa

“…Esses resultados apontam que para algumas rezadeiras não existem grandes restrições em relação ao tipo de folhas que devem ser utilizadas, mas existe um consenso de que o uso de plantas espinhosas ou folhas de pimenta não é recomendado (Rocha, 2013). Todavia, três (n=3) estudos citaram o uso de pimenta nos rituais de cura Souza, 2017;Silva, 2017;Tavares et al, 2019). Em Barra do Choça, uma das entrevistadas, conhecida como Mãe Zinha citou a não utilização de arruda nos rituais de benzimento, recomendando seu uso apenas em banhos ou preparos com folhas maceradas, sem fornecer muitos detalhes sobre o motivo (Rocha, 2013).…”