Este artigo tem como objetivo oferecer uma perspetiva geral sobre a presença (ou melhor, a ausência) de cineastas mulheres durante o período do Estado Novo. Se, por um lado, a situação das cineastas portuguesas deve ser enquadrada no contexto da ideologia do regime em relação às mulheres (Cova e Pinto, 2002), por outro, não podemos ignorar o contexto mais amplo da presença/ ausência de mulheres cineastas no cinema durante o século XX. Assim, a questão será enquadrada em trabalhos anteriores dedicados à questão das mulheres e do cinema num contexto mais amplo (cf. Lauzen; Butler, 2002; White, 2017); no caso português, o estudo parte do trabalho de Castro (2000) e Pereira (2016). Afirmamos também que essa invisibilidade, no que diz respeito ao regime do Estado Novo, foi contrabalançada pelo aparecimento nos últimos anos de vários documentários feitos por mulheres que estão a recuperar a memória do regime. Por fim, o artigo focar-se-á no filme da cineasta sueca Solveig Nordlund, intitulado O Meu Outro País (2014), argumentando que este estabelece uma ponte entre a memória individual e a memória coletiva, invocando a experiência pessoal da realizadora e do seu trabalho em Portugal desde a década de 1970.