Os exercícios da subjetividade: as reificações inocentes e as reificações estranhadas

Abstract

Este texto explora, analítica e empiricamente, a problemática da alienação e (ou) estranhamento, procurando auxiliar na intelecção das bases sócio-históricas que propiciam o seu florescimento dentro da empresa capitalista moderna. Para tanto realiza os seguintes movimentos: primeiro, partindo das concepções teóricas seminais de Marx, procura indicar as formas diferenciadas assumidas pela alienação e (ou)estranhamento, ao longo do século XX e inícios do século XXI, explorando alguns dos seus traços principais. Em seu segundo movimento, esboça uma fenomenologia da subjetividade, explorando, como hipótese, as ricas possibilidades analíticas existentes na obra de maturidade de Lukács, em particular suas noções de reificações inocentes e reificações estranhadas, como pistas férteis a compreensão desse fenômeno social no capitalismo de nossos dias.

A precarização do trabalho e a desumanização psicossocial em produções cinematográficas

“…modo, considera-se a subjetividadeum dos eixos centrais deste estudocomo produto (e agente produtor) de configurações socioculturais relacionadas com os modos de produção das condições materiais da realidade e da organização do trabalho (Vigotski, 1998;Antunes, 2011). Como elemento articulador da organização do psiquismo, o trabalho é nosso objeto de estudo, o qual, por sua vez, guia a escolha das obras analisadas: filmes que retratam coordenadas sócio-ocupacionais passadas, presentes e futuras e suas implicações psicossociais.…”

“…Em momento emblemático de Tempos modernos (Chaplin, 1936), o movimento no qual a lógica das esteiras passa para o corpo do personagem, simboliza a (re)organização humana a partir dos modos de (re)produção do trabalho, algo consonante com uma leitura materialista histórica e dialética da lei geral de desenvolvimento, em que as práticas sociais se tornam modos de organização do próprio organismo. Congruente com reflexões contemporâneas de diferentes matrizes de pensamento sobre o modo como a (des)organização social neoliberal tem produzido subjetividades e sofrimento (Antunes, 2011;Almeida, 2018;Safatle et al, 2021).…”

Adoecimento E Medicalização De Professores Universitários Frente a Precarização E Intensificação Do Trabalho

“…Como trabalhador, o docente sofre um processo de estranhamento na sua atividade de ensinar, assim como ocorre em outras profissões. Antunes (2002) e Netto e Carvalho (2015), baseados em Marx (2008), falam de quatro formas de estranhamento do homem em relação ao trabalho: 1) estranhamento em relação à natureza, ao seu objeto: quanto mais o homem produz menos tem para consumir; 2) não reconhecimento na sua própria atividade produtiva, o trabalho é somente um meio para conseguir dinheiro e adquirir mercadorias necessárias para sua subsistência; 3) estranhamento do gênero humano, uma vez que se apropria parcialmente daquilo que os homens, no percurso histórico, já produziram; e 4) do homem pelo próprio homem, que, conforme afirma Marx (2008, p. 86 Essa hierarquização pode ser alterada diante do adoecimento, analisa Zeigarnik (1979;1981), provocando uma modificação patológica da personalidade. A medicalização nos ambientes escolares e universitários é um fenômeno muito recorrente, cuja explicação se funda em múltiplas determinações: sua historicidade, as razões de sua recorrência e as necessidades que criaram.…”

Professor readaptado: a precarização do trabalho docente e o adoecimento

“…No capitalismo ocorre um estranhamento em relação ao trabalho. Antunes (2002) e Netto e Carvalho (2015), ba-seados em Marx, expõem quatro formas de estranhamentos. O primeiro é o estranhamento em relação à natureza, o seu objeto: quanto mais produz menos tem para consumir; estranhamento que ocorre entre o trabalhador e a objetivação do seu trabalho.…”