Ocupação antirracista e decolonial do espaço psicanalítico

Abstract

O objetivo do presente artigo é descentralizar o texto de Jacques Lacan a partir de uma geopolítica que pretende se fazer interpretante, uma vez que o autor acentua a importância de o analista visar, no horizonte de sua práxis, a subjetividade de sua época. Parte-se de uma posição na qual o analista não é neutro frente às tendências racistas e ao modo como o discurso dominante de uma época incide sobre o inconsciente. Em um contexto historicamente marcado pela abolição tardia da escravidão, encarceramento e genocídio da população negra e diversas práticas segregativas, como no caso brasileiro, é premente tomar o racismo como uma categoria sob o olhar da psicanálise em seu campo clínico e político, ao lado das demais disciplinas sociais. Pretendemos, assim, identificar algumas premissas para iniciar a desmontagem dos artefatos teóricos dominantes e seguir em direção a um novo arcabouço epistêmico, fundamentando uma prática clínica antirracista.

O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL PARA A POPULAÇÃO NEGRA: implicações para a Psicologia clínica

“…Neste tópico, visamos analisar como os textos selecionados dialogam sobre os currículos de Psicologia, temáticas raciais e saúde mental da população negra e como isso reverbera na atuação da(o) psicóloga(o) na clínica psicológica e no acolhimento percebido (ou não) por pessoas negras no setting terapêutico, tendo como principal enfoque a omissão da Psicologia para as questões étnicoraciais como um marcador do racismo. Para isso, utilizamo-nos dos seguintes artigos: Benedito e Fernandes (2020), Gouveia e Zanello (2019), Carvalho e Missiato (2021) e Guerra et al (2021).…”

“…(CARVA-LHO; MISSIATO, p 15, 2021). Guerra et al (2021), por meio da psicanálise lacaniana e da necessidade de localização do psicanalista no contexto sócio-histórico de subjetivação em que está inserido, identifica possíveis deslocamentos epistêmicos para uma nova prática clínica que seja antirracista. Os autores sinalizam que não ocorreu o "giro decolonial" no campo clínico brasileiro, haja vista que autores decoloniais brasileiras(os) e latino-americanas(os) são pouco conhecidos e não recebem o devido reconhecimento no campo teórico-epistêmicoacadêmico.…”

“…Psicólogas(os) Brancas(os) e questões étnico-raciais: "a branquitude não se mobiliza para discutir a questão do racismo" Tendo como objetivo analisar as influências da branquitude no atendimento psicológico às pessoas negras, elencou-se a presente categoria. Para tal, selecionou-se os estudos de Benedito e Fernandes (2020), Gouveia e Zanello (2019), Meireles et al (2019), Guerra et al (2021), Tavares e Kuratani (2019) e Rosa e Alves (2020).…”

“…Citam também que a acomodação por parte das(os) profissionais de psicologia em discutir racismo é uma manifestação da branquitude. Para Guerra et al (2021), a ciência psi é construída por uma base eurocêntrica e universalista, na qual o sujeito branco não se percebe como produtor de violências e nem se reconhece como sujeito racializado. O que ocasiona em uma incapacidade clínica de compreender como o racismo impacta na subjetividade e nas vidas de pessoas não brancas.…”

Fronteiras da Língua: Desarraigamento e Testemunho em Psicanálise

“…Uma prática clínica inclusiva e aberta à diferença requer o reconhecimento dos efeitos do racismo e da segregação em nossa cultura. A psicanálise, ao não desconsiderar a relação entre sofrimento psíquico e os efeitos de exclusão produzidos pelo discurso dominante, abre-se à construção de uma saída, sempre única, que cada sujeito encontra e, nesse sentido, está implicada na luta pela ampliação das condições de participação social e de igualdade de direitos em nossa sociedade (Campos Guerra et al, 2021).…”