O silêncio da sexualidade em idosos dependentes

Abstract

Resumo A sexualidade é um tema silenciado em relação à população idosa que é socialmente percebida como assexuada. Este artigo de abordagem qualitativa faz parte de uma pesquisa sobre idosos dependentes cujo objetivo foi analisar suas vivências em relação à sexualidade. O tema foi obtido a partir de entrevistas com 26 deles, que falaram sobre o sexo em suas vidas. A análise de conteúdo temática identificou duas categorias principais nas falas: diferenças de gênero no trato da sexualidade e dificuldade de falar sobre sexo. Observaram-se diferenças na percepção e valorização da sexualidade, segundo gênero. Homens idosos conferem importância para a potência sexual, e mulheres idosas consideram natural a cessação da vida sexual na velhice. Os idosos do sexo masculino enunciam um conceito de sexualidade pautado na satisfação biológica e no ato sexual, enquanto as mulheres valorizam mais a parceria, o afeto e o carinho. Constatou-se silêncio dos pesquisadores quanto ao tema, embora ele tenha sido colocado no manual de pesquisa para orientar a entrevista com a pessoa idosa. No entanto, embora apenas 26 tenham mencionado o assunto, foi possível constatar que a sexualidade do idoso é modulada pela percepção de gênero e é um tema pouco estudado e de difícil abordagem em cenários de pesquisa e de atenção à saúde.

O sentido da memória de homens e mulheres idosas: relação de gênero e sexualidade

“…Assim, as mudanças corporais nas idosas, associadas a uma cultura que glorifica o corpo jovem, recriminando o velho, só serve para ratificar o pensamento que elas têm de não serem mais atraentes e desejáveis durante a velhice (Oliveira, Neves & Silva, 2018). Além disso, sob o ponto de vista simbólico, as mulheres idosas são colocadas em posição de inferioridade no que diz respeito a criação da sua imagem corporal, visto que, a sociedade faz jus ao corpo jovem, validando o tabu da sexualidade na velhice como seres assexuados, desprovidos de desejo e anseios (Soares et al, 2021).…”

“…Tendo em vista que, os homens idosos ao tempo que mantém vivos os seus desejos sexuais, vivenciam as dificuldades relacionadas a diminuição da sua função erétil e dessa forma, desencadeiam sentimentos de angústia, decepção, frustração e medo de fracassar. Assim, a disfunção erétil fere a masculinidade do homem e essas mudanças fazem com que os mesmos percam sua vivacidade daquilo que socialmente os fazem se sentir "homem", pois, socialmente foi construído a ideia de que para afirmarem sua sexualidade, os homens precisariam manifestar sua virilidade através de uma sexualidade erétil e penetrante (Gewirtz-Meydan et al, 2019;Soares et al,2021).…”

“…De um ponto de vista sociocultural, as mulheres são reflexo de reprodução e cuidado, sendo ensinadas a satisfazer o sexo oposto, anulando os seus próprios desejos sexuais, especialmente durante a velhice. Logo, percebe-se que a sexualidade da mulher era voltada para obediência diante do seu marido, demonstrando as diferenças nos papéis sociais do homem e da mulher idosa (Soares et al, 2021;Fernandes-Eloi et al, 2017;Mendonça et al, 2020).…”

Conhecimento de idosos sobre sexualidade no processo de envelhecimento

“…O declínio sexual como algo inevitável marca a reflexão sobre o envelhecimento como um preconceito, dentro do pressuposto de que os indivíduos deveriam se ajustar a esse imperativo, de modo a usufruir os benefícios morais da maturidade pós-sexual. 15 O processo de envelhecimento não indica tornar-se assexuado, entretanto, tabus socioculturais a respeito da sexualidade nessa fase da vida intimidam os idosos de desempenhar a sua vida de forma completa, visto que as modificações fisiológicas do envelhecer, instruções religiosas, pressões familiares e aspectos individuais fortificam esse estigma social. 16 Com o estereótipo da assexualidade dos idosos, pode-se dizer que a sociedade contribui para que o idoso tenha a percepção de menos valia, porque as pessoas de mais idade sempre foram imaginadas como aquelas que estão se despedindo da vida.…”

“…Na concepção cultural reducionista da vivência da sexualidade somente por meio do coito, alguns idosos sentem-se diminuídos, pois o ato sexual é afetado por alterações corporais inexoráveis provenientes da idade, tais como, disfunção erétil e alterações hormonais. 15 Muitas vezes, a pessoa idosa é entendida pela sociedade e profissionais como seres sem vida sexual ativa, associando-se o sexo à reprodução. Ressalta-se a realidade refletida à pessoa idosa, como a proibição dos prazeres da vida e o silenciamento sobre sexualidade na terceira idade.…”