Em 1905, Freud, já dispondo do conceito de inconsciente e da articulação do aparelho psíquico como um aparelho de linguagem, traz o conceito de pulsão para falar da sexualidade como o alicerce de toda a teoria psicanalítica. A teoria da sexualidade é efeito de seu extenso percurso clínico, onde pôde perceber que o eu se utiliza do recalque como defesa diante das constantes exigências de satisfação das pulsões, sendo os sintomas neuróticos o produto desse conflito. Ao ofertar um dispositivo em que a fala do sujeito, endereçada ao analista sob transferência, é o seu material de trabalho, Freud pôde operar e ter notícias do circuito pulsional em suas dimensões simbólica e real; ou seja, através do que se coloca em significantes e do que escapa, por ser impossível de representar, restando e retornando para o sujeito como tentativa de recuperação de um gozo perdido. Lacan, ao retomar e avançar com a teoria freudiana da sexualidade, a partir das fórmulas quânticas da sexuação, articula as modalidades de gozo em relação ao falo, apontando as diferentes posições assumidas pelo sujeito, através da linguagem, frente à falta e à castração. O falo, como um significante da falta, orienta o desejo a partir da operação metafórica do Nome-do-Pai, organizando, assim, o campo do gozo, porém, não-todo: sempre haverá algo que escapa à representação significante e aponta para a ausência de complementariedade entre as posições de gozo do homem e d’Ⱥ mulher, expressos tanto através da relação entre os sexos, que não vai, quanto na impotência do amor em fazer Um. Assim, pretendemos trabalhar, através de dois casos clínicos, o mal-estar inerente às parcerias amorosas – tal como escutamos na clínica –, mas não sem tecer uma articulação entre a sexualidade, o gozo e o amor.