ção da vida "pré-contato" -distribuição adequada quando se tratava de grupos "aculturados" ou "integrados" -; ou assumir a forma de um epílogo ou de um necrológio, quando pelo contrário os protagonistas eram donos de uma cultura distintiva e ainda vigorosa, cujo crepúsculo mal se iniciava perante os olhos melancólicos do etnógrafo.Se o capítulo do contato, maior ou menor, prólogo ou epílogo, não perdeu sua importância, o florescimento da história indígena extravasou decerto seus limites, fazendo da história uma dimensão constante e interna das sociedades em pauta. Essa redistribuição atendia a uma necessidade do movimento indígena que na época desabrochava com força (Carneiro da Cunha, 1992). Povos que aspiravam a um futuro deviam ter também um passado, e assumir como própria, e não mais como resultado de uma intromissão, a capacidade de mudança. O movimento da história indígena -e falo em "movimento" porque em vá-A TERCEIRA MARGEM DA HISTÓRIA: estrutura e relato das sociedades indígenas*
Oscar Calavia SáezA história indígena no Brasil passou para o primeiro plano do interesse dos antropólogos nos anos de 1980.1 O tema em si não era novo, mas costumava aparecer nas monografias na forma de um capítulo específico, a saber, o contato com a sociedade dos brancos que a rigor teria trazido a história para um lugar onde ela não se encontrava previamente. A história seria uma somatória de externalidades: frentes de expansão, fricções interétnicas, políticas indígenas e indigenistas, ações da sociedade nacional e reações nativas. Nas monografias, podia crescer até tomar conta da descrição e reduzir a prólogo a descri-* Este artigo faz parte das atividades do projeto "Transformações indígenas: os regimes de subjetivação ameríndios à prova da história" (NUTI-PRONEX), desenvolvido por equipes do MNRJ e da UFSC.
Artigo recebido em junho/2004Aprovado em novembro/2004