O objeto desta dissertação é a produção musical do grupo Quarteto Novo registrada no LP homônimo lançado pela gravadora Odeon em 1967. Partindo de análises de fonogramas do disco, verificou-se que o grupo produziu uma linguagem híbrida, operando com elementos musicais regionais, principalmente aqueles identificados com a cultura sertaneja nordestina, articulados a procedimentos de outros gêneros e estilos associados a repertórios cosmopolitas. A investigação partiu de duas hipóteses: a possibilidade do ideário nacional-popular dos anos 60 ter balizado as escolhas estéticas dos músicos, orientando-os na retomada de tradições musicais brasileiras; e a de que a ruptura com o jazz, expressa nos discursos dos músicos, é relativa, uma vez que há sinais evidentes de procedimentos típicos do gênero norte-americano na construção da sonoridade característica do quarteto. O projeto artístico que orientou a produção do referido LP refletiu, na opinião dos próprios músicos, a preocupação com o "nacionalismo musical" e a busca de uma sonoridade "tipicamente brasileira". Tudo isso se traduziu em aspectos de arranjo, instrumentação e improvisação que se remetem às tradições musicais populares. A proposta do Quarteto Novo estava inserida num contexto de grande efervescência política e cultural impulsionada por artistas e intelectuais sintonizados com o que Ridenti definiu como "brasilidade revolucionária", uma construção simbólica que se constituiu numa maneira específica de auto-compreensão do Brasil naqueles anos, com forte conotação utópica. A brasilidade revolucionária serviu de parâmetro para a mobilização de uma geração de intelectuais e artistas que protagonizou uma das mais importantes experiências de arte engajada da história brasileira. Nessa conjuntura, a idealização de um autêntico "homem do povo", com raízes rurais, sertanejas, orientou boa parte da produção artística daqueles anos, da qual o disco Quarteto Novo pode ser considerado um exemplo significativo.