Esta dissertação baseia-se em dados de acompanhamento longitudinal com o sujeito LP, sexo feminino, 74 anos, com diagnóstico clínico de doença de Alzheimer. O objetivo é analisar, do ponto de vista da Neurolinguística Enunciativo-discursiva, os processos de reconstituição da instância discursiva “eu” através de narrativas da história de vida. Para tanto, partimos do seguinte questionamento: quais os processos de que o sujeito LP lança mão por meio de narrativas da sua história de vida e resgastes de memórias que possibilitam a reconstituição da self-narrativa? A hipótese que orienta este estudo defende que a narrativa constitui uma das estratégias utilizadas em contextos de interação verbal com o objetivo de resistir e preservar sua imagem social no processo de demência. Conforme Benveniste (1966), através da linguagem o homem se constitui como sujeito, estando ela de tal forma organizada que permite a cada locutor apropriar-se de índices específicos produzidos na e pela enunciação que servem como subsídios para revelar a subjetividade na linguagem. As discussões neste trabalho, além de se sustentarem nos estudos de Émile Benveniste (1966, 1976), no campo da enunciação e da subjetividade, respaldam-se principalmente em Maria Irma Hadler Coudry (1983, 1988, 1990, 2001), Rosana do Carmo Novaes Pinto e Hudson Marcel Bracher Beilke (2007, 2008, 2009, 2010), Ivone Panhoca (2013), Rosana Landi (2009), dentre outros trabalhos na área da Neurolinguística Enunciativo-discursiva que fundamentaram as bases desta dissertação. Na abordagem metodológica, trabalha-se com um acompanhamento longitudinal do sujeito LP. Os encontros aconteceram no Laboratório de Pesquisa e Estudos em Neurolinguística, do Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sendo pautados em uma perspectiva enunciativo-discursiva da narratividade de histórias de vida e resgates de memórias. Os resultados evidenciam os processos que perpassam a relação de LP enquanto sujeito, constituído na e pela linguagem, com a doença. À medida que a idosa narra suas histórias de vida, institui o presente formal através do presente inerente a enunciação, que se renova a cada produção de discurso, configurando-se como um importante meio para compreensão das dimensões subjetivas do que foi narrado como algo vivido pelo sujeito.