O artigo debate como um sentido da convivência com semiárido está incorporado ao projeto da marca de água mineral AMA. Gerida pela cervejaria AMBEV e com a publicidade de ser “mais que uma água, uma causa”, a AMA propõe encaminhar o lucro de sua venda para a construção de cisternas, painéis solares e estrutura de abastecimento hídrico de comunidades rurais em todo semiárido brasileiro. A partir de um mapeamento de parcerias, fundações e ONGs, é perceptível um ideário que legitima a AMA enquanto um “negócio social”, resultado de um duplo movimento. Primeiro, a AMA se apresenta como um empreendedorismo que tenta conciliar lucro com “propósito social”, um modelo de negócios fruto de uma incorporação da crítica ao capitalismo nos países centrais. Segundo, a proposta da AMA está sintonizada com uma crítica ao planejamento do Estado para o combate às secas, predominante no século passado no Brasil. A AMA insere, assim, um “novo espírito” para convivência com o semiárido, de eficiente legitimação ideológica: uma proposta de conviver com as secas que tem afinidade eletiva com valores ligados a fundações vinculadas ao mercado financeiro e startups gestoras de risco. Nas conclusões, o artigo problematiza uma relação moral/mercado e como “cidadania hídrica” que iniciativas privadas, como essa da AMA, visa ocupar espaço diante de um desmonte em políticas públicas voltadas para comunidades pobres do meio rural do semiárido brasileiro.