O debate do desenvolvimento na tradição heterodoxa brasileira

Abstract

RESUMO O presente trabalho tem como objetivo resgatar o debate sobre desenvolvimento econômico dentro da tradição heterodoxa brasileira. São examinadas as teorias originais da acumulação cepalina e a forma como essas teorias foram depois utilizadas por Furtado para avançar suas hipóteses de estagnação e mais especifi camente sua teoria do subdesenvolvimento. Apresentamos algumas críticas sobre a hipótese da estagnação tendo como base o trabalho de Conceição Tavares e Serra, mostrando como a tradição heterodoxa brasileira passou e incorporar o princípio da demanda efetiva em seus modelos de crescimento. Essa mudança teórica é o fundamento da chamada Escola da Unicamp. Utilizamos a discussão de ambas as abordagens para avançar na análise da interação entre distribuição de renda e desenvolvimento segundo diferentes abordagens de acumulação: a leitura clássica e a abordagem da demanda efetiva.Palavras-chave: história do pensamento econômico; desenvolvimento econômi-co; acumulação de capital; Celso Furtado

The Indian Growth Acceleration: A Brazilian Demand-led Insight

“…A main contribution of Maria da Conceição Tavares to the Latin American heterodox thinking was the introduction of the Kaleckian framework into the Brazilian debate, mainly developed by UNICAMP since the 1970s (Serra & Tavares, 2000; Tavares, 1976Tavares, , 1978. In their discussion with Furtado (1966), Tavares (2000[1970]), from a pioneering Brazilian effective demand perspective, show that despite a regressive income distribution, investment in the Brazilian miracle of the 1960s and 1970s would be accelerated by the upper classes' consumption and government expenditure on infrastructure (Bastos & d'Avila, 2007;Scherer, 2007;Serrano, 2001Serrano, , 2016. The political arrangement articulated behind the Brazilian miracle included transnational enterprises and financial capital, the Brazilian upper bourgeoisie and the state military bureaucracy (Cardoso & Faletto, 1970;Evans, 1979;Rodríguez, 2006).…”

“…Since the 1990s, the UNICAMP's authors have mainly focussed on the financial and technological aspects of Brazilian capitalism. The absence of long-term financing, the high interest rate or the particularly high Brazilian entrepreneurs's liquidity preferences have been pointed out as the main problems in increasing autonomous investment (Bastos & d'Avila, 2007;Cardoso de Mello & Novais, 1998;Tavares, 1999). However, although these issues are of main relevance, affecting who is going to invest, in which sectors and with which techniques, they did not fully explain the long-term aggregate investment behaviour 1 (Bastos & d'Avila, 2007;Serrano, 1995Serrano, , 2016.…”

“…The absence of long-term financing, the high interest rate or the particularly high Brazilian entrepreneurs's liquidity preferences have been pointed out as the main problems in increasing autonomous investment (Bastos & d'Avila, 2007;Cardoso de Mello & Novais, 1998;Tavares, 1999). However, although these issues are of main relevance, affecting who is going to invest, in which sectors and with which techniques, they did not fully explain the long-term aggregate investment behaviour 1 (Bastos & d'Avila, 2007;Serrano, 1995Serrano, , 2016. In turn, in a fully induced-investment theory, even in the long run, entrepreneurs can be schumpeterian, they can replace each other through innovation, but the aggregate investment must adjust to demand, implying a trend to a normal degree of capacity utilization (Garegnani & Palumbo, 1998;Serrano & Freitas, 2017).…”

“…Despite the existence of a Lewis/Furtado type of labour market (unlimited workforce) in both countries, as first pointed out by Tavares and Serra (1971), it does not imply growth stagnation. In fact, the relevance of autonomous expenditures related to financialized upper classes/casts consumption and infrastructure, and real estate public and private expenditure is of main importance to fully understand both growth experiences (Bastos & d'Avila, 2007;Gonzalo, 2018;Rodríguez, 2006;Scherer, 2007).…”

A macroeconomia do governo Médici (1969-1974): uma contribuição ao debate sobre as causas do "milagre" econômico

“…Segundo essa tradição, a crise do início dos anos 1960 tinha caráter estrutural, associado justamente à má distribuição de renda que se observava naquele estágio, e que impediria que o processo de acumulação produtiva avançasse exatamente porque os próximos setores a substituir importação eram os produtores de bens duráveis, cujo valor unitário mais elevado exigia uma escala de mercado incompatível com as condições que a má distribuição da renda no Brasil impunha. A tradição heterodoxa brasileira era pessimista e apontava para um cenário no qual a viabilidade do capitalismo brasileiro requeria reformas que melhorassem a distribuição da renda, sem o que a longa estagnação seria inevitável (SALM, 2010, BASTOS & GALARZA, 2009.…”