Nossa EscolaAssim que eu vim pela primeira vez à escola, ela não era como agora. Em nossa escola, há três classes. No início, as paredes não eram cobertas de desenhos e recortes. Não havia vasos de flores na janela. Hoje, há muitos, e tudo isso graças a nossa educadora que cuida tão bem de nós e cuida de tudo. A educadora quer que nos comportemos, sejamos obedientes, limpos e bem educados, e então, tudo ficará bem para nós, e ela ficará contente porque seu trabalho não foi inútil. [a] Mesmo que [a]. Nós não somos sempre obedientes e a educadora às vezes se zanga. Nós gostamos muito da escola e a gente vêm com boa vontade. Nós brincamos, nós cantamos. A educadora lê para nós pequenas revistas judaicas e o tempo passa depressa. Hanka Zaksenhaus, um dos alunos da escola elementar autorizada da Rua Nowolipki, 68, depois de primeiro de outubro de 1941, no gueto de Varsóvia. RESUMO SOUZA, N. N. Gueto de Varsóvia: Educação clandestina e resistência. 2013. 177f. Dissertação [Mestrado] -Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013 Este trabalho consiste em analisar documentação referente à educação clandestina de crianças em idade inferior a quinze anos, no gueto de Varsóvia, durante a Segunda Guerra Mundial, quando Hitler, ao invadir a Polônia em 1939, ordenou o confinamento dos judeus em guetos. A citada documentação se refere aos diferentes olhares daqueles que se debruçaram a escrever sobre a educação nesse gueto, tais como: o olhar institucional, o olhar dos educadores e o olhar das crianças. Por meio dessa análise, buscou-se compreender a forma de organização e o andamento das atividades desenvolvidas pelo ensino clandestino, além de conhecer a percepção institucional, dos educadores e crianças envolvidos nesse processo educacional. Entre os documentos analisados, há referências à organização da educação clandestina em todos os níveis e em diversos lugares dentro do gueto. Em se tratando das crianças, faz-se menção à Central de Associações de Proteção aos Órfãos e Crianças Judias Abandonadas (Centos) oferecendo à criança cuidados sistemáticos de sobrevivência e educação; e às diversas organizações educativas de antes da guerra patrocinando em cantinas [refeitórios] um ensino mais próximo do ensino escolar, como por exemplo, a Organização ou União Central das Escolas Judaicas (TsYShO). Evidenciou-se que a educação foi um dos mais importantes cenários para a resistência individual e coletiva. A organização do ensino e as atividades educacionais foram orientadas às necessidades da criança como da comunidade. O momento exigiu que uma atitude social fosse tomada em conjunto com medidas educativas, assim, a educação velou pela vida física, emocional e, na medida do possível, pela vida intelectual da criança. O seu desenvolvimento intelectual, embora importante, não era entendido como prioritário apesar de serem ministradas disciplinas tais como geografia, história, matemática e literatura. Para tornar as atividades educacionais mais atrativas e desviar a atenção da criança d...