ResumoEntre as reações adversas a alimentos, os distúrbios relacionados ao glúten vêm atualmente ganhando cada vez mais espaço nas publicações científicas e não científicas. Estes distúrbios são divididos em três entidades: doença celíaca (DC), alergia ao trigo (AT) e sensibilidade não-celíaca ao glúten ou ao trigo (SNCG/T), considerando que este cereal vem sendo associado mais frequentemente às manifestações, discutindo-se ainda se não seria o real componente alimentar desencadeante. A DC é uma enteropatia autoimune, enquanto a AT é uma reação de hipersensibilidade, mediada ou não mediada pela imunoglobulina E (IgE). A SNCG/T é uma entidade emergente, de fisiopatologia ainda discutida, que vários pesquisadores propõem como diagnóstico de exclusão em relação à AT e à DC. A SNCG/T vem despertando grande celeuma popular e polêmica nos meios médicos. A presente revisão tem por objetivo abordar a SNCG/T, procurando elencar elementos de distinção dos outros dois distúrbios retrocitados discutindo aspectos como características clínicas, diagnóstico diferencial, fisiopatologia e tratamento. Em muitos trabalhos, salienta-se a possibilidade de sobreposição ou de confusão diagnóstica com outras doenças funcionais gastrointestinais, como síndrome do intestino irritável (SII) e oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis (FODMAPs, na sigla em inglês). Concluímos que a SNGG/T, embora constitua uma entidade clínica reconhecida por um número expressivo de pesquisadores, ainda é objeto de amplo questionamento quanto à sua caracterização, ao seu diagnóstico e à sua fisiopatologia. Isto posto, considerando sua elevada prevalência estimada e as repercussões populares, indubitavelmente trata-se de assunto digno de estudos mais aprofundados e bem conduzidos.