O estudo da aquisição da linguagem é de grande importância tanto no campo da psicologia do desenvolvimento, quanto no da psicanálise, dado que a ferramenta principal de sua terapêutica é a fala. Esta dissertação tem o objetivo de apresentar, explicar e explicitar o trabalho de René Spitz. O autor foi um psiquiatra e psicanalista austro-húngaro, que dedicou grande parte de sua obra para o estudo da aquisição da linguagem em crianças pequenas e como esta surge como consequência dos processos de maturação e desenvolvimento físico e psíquico. Em sua teoria da formação do ego, o sujeito passa por sucessivas fases do desenvolvimento, consequência do surgimento de organizadores psíquicos, centros que regem a integração das diversas faculdades presentes no organismo num determinado momento. Assim, para que se desenvolva a linguagem verbal, é preciso antes passar por três fases do desenvolvimento, cujo estabelecimento pode ser identificado através de indicadores: o primeiro é a resposta sorriso, movimento involuntário do bebê por volta dos 3 meses de idade quando se depara com a visão frontal de uma face em movimento, sinal de que já é possível se distinguir entre o vivo e o inanimado; em seguida, por volta dos 8 meses de idade, o infante expressa ansiedade quando colocado frente a pessoas desconhecidas, sinal de que já distingue entre eu e outro, e entre conhecidos e estranhos. Por fim, dos 15 aos 18 meses de idade, a criança se mostra capaz de entender e utilizar o “não” corretamente. Essa ação indica a aquisição da linguagem e, a partir do domínio do “não”, primeiro conceito abstrato apreendido pela criança, outros símbolos verbais começam a surgir. O trabalho de Spitz é de grande valor para a teoria psicanalítica e se distingue tanto pelas interfaces com outras áreas do conhecimento, como a etologia, a psicologia experimental e do desenvolvimento, a embriologia e a antropologia, quanto por relacionar a aquisição da linguagem ao desenvolvimento físico, psíquico e emocional do bebê, ressaltando a importância de uma relação boa e estável com a mãe ou o cuidador primário.