Atualmente a ultra-sonografia de crânio (USC) é o método de neuroimagem mais utilizado em neonatologia. Apresenta a vantagem de poder ser realizado sem a mobilização do recém-nascido (RN) do ambiente em que se encontra, ter uma resolução que melhorou com a utilização de aparelhos mais modernos, e que pode ser comparada a de outros métodos, tais como a tomografia computadorizada e a ressonância nuclear magnética, ter baixo custo, não utilizar radiação ionizante, e não necessitar de sedação da criança para sua realização. As patologias classicamente diagnosticadas através da USC são as hemorragias intracranianas, particularmente as peri-intraventriculares, que ocorrem em RN pré-termo, malformações do sistema nervoso central (SNC), hidrocefalias e lesões cerebrais associadas à encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal. Sua importância não reside apenas no diagnóstico de patologias agudas, mas também no fato de ser um exame útil para definir grupos de risco para seqüelas neurológicas, no seguimento em longo prazo. Recém-nascidos com leucomalácia periventricular, hemorragias parenquimatosas e malformações do SNC apresentam um alto risco para desenvolver quadros de paralisia cerebral e déficits cognitivos. O diagnóstico precoce, no período neonatal, permite que se estabeleça um planejamento mais adequado para os vários esquemas de reabilitação, que são empregados para minimizar os efeitos das seqüelas neurológicas sobre o desenvolvimento neuropsicomotor dessas crianças.A relação entre achados pouco freqüentes na USC neonatal e a presença de anormalidades definidas do SNC, ou em outros sistemas do organismo, é, portanto, um dado de importância prática. Assim, os estudos publicados na presente edição do Jornal de Pediatria são interessantes por chamar a atenção para situações pouco comuns, como a presença de cistos subependimários peri-ventriculares e hiperecogenicidade de vasos talâmicos na USC de RN, e a relação com possíveis alterações estruturais do SNC e de outros órgãos, que não são normalmente detectadas numa avaliação de rotina.A presença de cistos subependimários subjacentes à parede dos ventrículos laterais foi reconhecida primeiramente em estudos neuropatológicos, e somente mais tarde, com o advento dos exames de neuroimagem e a utilização mais freqüente da USC como exame rotineiro em terapias intensivas neonatais, é que o diagnóstico foi possível em maior escala. Como a maioria dessas lesões são achados fortuitos, pois não determinam quadro clínico específico, o seu valor prognóstico ainda não está bem estabelecido. Estudos prospectivos mostram que a ausência de infecção congênita, retardo de crescimento intrauterino, malformações e aberrações cromossômicas em RN com cistos subependimários são fatores relacionados a um bom prognóstico neurológico 1-3 . Suas dimensões diminutas e sua localização distante dos canais de circulação liqüórica fazem com que eles não determinem obstrução do fluxo liqüórico, com a conseqüente hidrocefalia hipertensiva, a qual seria detectada, clinicamente, através dos sinais clássic...