Nem do morro, nem da cidade: as transformações do samba e a indústria cultural - 1920-1945.

Abstract

Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer à FAPESP pela concessão da bolsa de pesquisa e pela reserva técnica para a compra de material e impressão desta tese, sem as quais este trabalho não teria se realizado. À Profª. Dr.ª Esmeralda Blanco Bolsonaro de Moura pela amizade e orientação segura com que fui presenteado desde minha graduação.

Ethos discursivo e sentidos sobre trabalho no samba

“…No caso do samba, temos um gênero do discurso literomusical genuinamente brasileiro que se tornou um dos símbolos do país, desempenhando papel importante na constituição de uma identidade nacional (AZEVEDO, 2004, FENERICK, 2005VIANNA, 1995) 2 .…”

As possibilidades de reflexão na indústria cultural

“…Tanto por esse processo de hibridização da música, que afetava as duas esferas da arte desde as primeiras aparições da música no Brasil, sejam folclóricas ou populares, quanto pelo fato dos centros urbanos possibilitarem um maior contato com esse processo, foram as músicas 39 Grande maioria dos estudos sobre a cultura popular brasileira discorrem sobre esses encontros. Vianna (2008) comenta, por exemplo o encontro de Gilberto Freyre com Pixinguinha; Fenerick (2005), e apontam para as festas que ocorriam nas casas burguesas em que compareciam também compositores e músicos populares, bem como os encontros nos bares entre os intelectuais e tais músicos. De acordo com Teixeira (2010), assim como a delimitação do que seria arte popular pela busca de uma harmonia com as formas importadas foi importante para construir uma identidade brasileira, foi também ao suavizar a distância terrível entre o morro e o asfalto, entre a chamada cultura de elite e a cultura popular, que se abriu espaço para uma tendência modernista-nacionalista para a música popular.…”

“…Poder-se-ia aqui, contudo, questionar se, em virtude do processo de hibridização e o fato da demarcação das esferas também serem híbridas no Brasil, o samba, advindo desse processo, já seria em sua natureza contraditório, de modo que essa possibilidade de suavizar as distâncias fosse duvidosa. Fenerick (2005) Debussy, reconhecido no Brasil como sinônimo de modernidade -o primeiro o rechaçava, visto os novos ideais frente à modernidade, pois Debussy já era tido como atrasado em Paris e o exótico era o que se buscava no momento. Para o autor, foi somente após essa viagem, que Villa-Lobos passou a dedicar seus esforços na produção de uma música de caráter nacional.…”

“…Para uma melhor compreensão do processo de modernização do samba, verFenerick (2005).42 Almeida (2007) aponta que nessa época, Adorno já discutia em alguns textos, como o "Die stabilisierte Musik" de 1928, essa apropriação estilizada da arte popular, do folclore, pela música artística, o que produzia uma espécie de estabilização da música que poderia ser dividida, em virtude de uma base social, em dois grupos: a classicista e a folclorista, embora a sua fronteira musical e nacional fosse tênue. Segundo o autor, os elementos dessas melodias em formas mais complexas seriam um "mero enfeite", em razão de seu uso inconsistente, de modo que o neofolclorismo se aproximasse mais da música comercial do que de uma música artística propriamente.…”

“…Fenerick (2005) comenta a polêmica em torno do sucesso de Carmem Miranda e Ari Barroso com a Aquarela do Brasil, por exemplo. Por um lado Ari que acaba contribuindo para a propaganda higiênica desenvolvida pelo D.I.P.…”