Partindo da proposta de Frank (1961), de que a mudança psicoterapêutica envolve uma mudança nos significados, sugerimos que os significados se organizam em narrativas cujos autores (I-positions, segundo Hermans) contam de uma forma activa as suas histórias. No sentido de estudar a mudança em psicoterapia, e partindo destas assunções, desenvolvemos o Sistema de Codificação de Momentos de Inovação, que fornece um método fiável e sistemático de identificar as novidades que emergem nas sessões de psicoterapia, que denominamos de Momentos de Inovação (MIs). Estes momentos de inovação emergem na psicoterapia e contribuem para interromper a dominância das auto-narrativas problemáticas responsáveis pelo sofrimento psicológico, permitindo a narração de novas histórias e a emergência de novas posições-do-Eu (I-positions). Após a descrição deste sistema de codificação, apresentamos um modelo de mudança e um modelo de estabilidade terapêutica, fundamentado nos resultados empíricos obtidos até ao momento. Partindo destas premissas, exploramos duas questões centrais relevantes: (1) Quais os processos que bloqueiam o desenvolvimento de momentos de inovação da fase intermédia até à fase final da terapia, particularmente no que respeita à reconceptualização? (2) Por que razão será a reconceptualização central no processo de mudança? Palavras-chave: Narrativa, Momentos de inovação, Psicoterapia.
INTRODUÇÃONeste artigo partimos da perspectiva de que a Psicoterapia não se ocupa apenas com a redução sintomática mas também, e talvez de forma mais central, com a transformação de significados pessoais. Acreditamos que é difícil alcançar uma mudança significativa em psicoterapia sem uma transformação paralela ao nível dos significados. Na sequência desta perspectiva, e subscrevendo a afirmação de Frank com mais de 50 anos, o objectivo da psicoterapia é operar uma mudança nas assunções que conduzem o cliente à desmoralização: "As psicoterapias efectivas combatem a desmoralização persuadindo os pacientes a transformar estes significados patogénicos em novos significados que reacendam a esperança, elevem a mestria, aumentem a auto-estima e reintegrem os pacientes nos seus grupos" (Frank, 1961, p. 52; ver Frank & Frank, 1991).A estrutura destes significados patogénicos tem sido alvo de teorização por virtualmente todas as escolas de psicoterapia. Os modelos mais importantes de psicoterapia, desde a terapia cognitiva às terapias psicodinâmicas e humanistas, têm proposto diferentes formas de conceptualizar estes significados patogénicos, desde crenças centrais, a esquemas maladaptativos, esquemas pessoais
27A realização deste estudo foi apoiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), através do projecto "Ambivalência e insucesso psicoterapêutico", com a referência PTDC/PSI-PCL/121525/2010. A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Miguel M. Gonçalves,