“Não me sai da memória”: história oral e futebol no Vale do São Francisco

Abstract

Nas décadas de 70 e 90, nas cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), ocorreu um tradicional torneio de futebol amador do Vale do São Francisco: o BAPE. O objetivo deste artigo é interpretar seus significados socioculturais através da oralidade de seus protagonistas. Por meio da história oral foi possível acessá-los a partir das narrativas de dois jornalistas e três jogadores que vivenciaram o BAPE. Por meio destas memórias foi possível ampliar a compreensão do evento revelando outras nuances sobre suas organizações internas, a gênese do torneio, a dinâmica das equipes na contratação dos jogadores, as narrativas pessoais, seus símbolos e rituais, a dimensão simbólica dessa experiência na vida dos protagonistas e suas percepções a respeito das razões que culminaram com o seu término. Isso nos permitiu reescrever nossa versão da história do mais tradicional torneio do futebol do Vale do São Francisco.

Interculturalidade, Decolonialidade E Educação: Uma Pedagogia Outra a Partir Dos Futebóis?

“…Neste caso, trata-se de um insulto machista que traz um sentido patológico para um ato sexual não admitido por masculinidades opressoras. 14 Enquanto o Bangu era o único clube de operários da cidade do Rio de Janeiro, nos anos de 1910, o Fluminense era o clube da elite econômica e dos brancos (CALDAS, 1990;FILHO, 2010;VIEIRA, 2017). Desde a sua fundação, no ano de 1902, a presença da branquitude e da colonialidade britânica foram marcantesnão é de se estranhar, portanto, que o nome oficial Fluminense Football Club permaneça até hoje na língua inglesa.…”

“…O militarismo foi determinante para ratificar essa tendência, já que, dentre suas motivações principais, estavam os interesses políticos na virilidade que atravessaram a primeira e a segunda Guerra Mundial, das quais o Brasil fez parte. 30 Em conluio com tal concepção, o futebol nacional, nas primeiras décadas do século XX, esteve marcado pela supremacia da branquitude, das classes mais abastadas (CALDAS, 1990;FILHO, 2010;GIULIANOTTI, 2002;MURAD, 1996;VIEIRA, 2003) e do cis-heteropatriarcado. Até hoje isso é pouco discutido na historiografia sobre a época, como se o problema da colonialidade desse esporte no país estivesse restrito a pretos, pobres, analfabetos e outras ameaças do masculino.…”

“…Entretanto, a sua forma moderna/colonial é forjada oficialmente na Europa contemporânea, em 1863, a partir da associação entre clubes ingleses, a Football Association, conforme já enunciamos.No Brasil, a origem do futebol moderno/colonial também é difusa. Na narrativa tradicional é atribuída à chegada de Charles Miller à capital paulista, vindo da Inglaterra(CALDAS, 1990). Por outro lado, é enunciado que, antes disso, jogos de futebol já eram realizados em escolas de São Paulo(NETO, 2002) e em colégios55 Há, em nossa compreensão, uma síntese ao igualarmos outros futebóis mais democráticos a jogos e brincadeiras populares, jogos cooperativos, jogos inclusivos, entre outros conteúdos da EF.…”