Na outra cena da representação: considerações ferenczianas sobre o trauma

Abstract

O objetivo deste artigo é abordar as contribuições ferenczianas acerca do trauma para enaltecer a pluralidade do psiquismo, seja formado por traços psíquicos representados ou por marcas traumáticas que extrapolam o campo da representação. Por conseguinte, propõe-se que as vertentes estruturante e desestruturante do trauma sejam compreendidas não como predicados de diferentes tipos de trauma, mas como movimentos inerentes à constituição psíquica. Assim sendo, a clínica psicanalítica deve extrapolar um modelo estanque de psiquismo para contemplar as produções subjetivas que se dão na outra cena da representação, dentre elas a dimensão sensível da linguagem.

Life History and Personality Characteristics of Marital Aggressors: Psychoanalytic Contributions

“…In João's life story, many situations experienced by him seem to have had a traumatic effect, because he witnessed various forms of violence by his father, against himself, his mother, brothers, and others, in addition to the mother's silent witnessing. It is important to highlight that trauma is not in itself a pathological event, but it can be subjectivant or desubjectivant to the individual depending on the relationship it establishes with the environment (Canavêz, 2013). It called our attention that João questions himself about the possibility of having been affected by his father's violence to the point of also being violent with his partner.…”

Comunicação E Intersubjetividade Na Teoria E Na Técnica Psicanalítica

“…Neste caso, a mente se divide em duas partes que coexistem e se ignoram mutuamente. Se o neurótico se atormenta com os conflitos e manifestações do Inconsciente, o traumatizado ferencziano evidencia uma clivagem tão estável que as características da fragmentação só se fazem notar de modo pouco ruidoso para os que aceitam o esforço de procurar reconhecê-las (Canavês, 2013). Trata-se, contudo, de estabilidade reativa, típica da sabedoria forçada (Ferenczi, 1933).…”

“…Ao corresponder dessa maneira, o adulto se utiliza de uma interpretação diferente daquela da criança, que ainda não conta com a unificação das pulsões sexuais. Destaca-se, nesse momento, uma total dissintonia afetiva e comunicativa entre a criança e o adulto que a utiliza como objeto de uso sexual erotizado, constituindo o segundo tempo da cena traumática em que o adulto abusa sexualmente da criança.Diante desse desencontro de linguagens, a criança busca suporte junto a um objeto de confiança que desempenhe a função de intérprete para compreender o que foi vivenciado, na medida em que não dispõe de elementos suficientes para elaborar o ocorrido(Canavês, 2013). Como resposta a esse apelo, a criança, entretanto, só encontra um adulto que não consegue entrar em contato com o que se passou, seja por não suportar o horror que a situação lhe gera ou por não acreditar em seu relato(Pinheiro, 1995).…”