“Na cozinha das ciências”: os usos do conceito de epistemologia na pesquisa em comunicação

Abstract

Resumo Vinte anos atrás, o primeiro livro de epistemologia da comunicação foi publicado no Brasil, organizado por Lopes (2003). Embora já existissem investigações sobre o tema, a obra trouxe a discussão para um público acadêmico mais amplo. As décadas seguintes foram marcadas por um aumento sem precedentes de pesquisas sobre o tema, gerando um número crescente de publicações e eventos a respeito, como as de L. C. Martino (2017), Signates (2018) e Rüdiger (2022). Este texto delineia, com base em pesquisa bibliográfica, os usos do conceito de epistemologia da comunicação nesse período, desde as discussões iniciais até seu desdobramento em um corpo de conhecimento estabelecido. A observação desse movimento sugere uma ausência de consenso sobre o conceito, mas aponta esforços para sua construção no diálogo com perspectivas que ultrapassam a epistemologia clássica e dialogam com propostas não hegemônicas. Discute-se, a partir daí, algumas promessas e limites das trilhas percorridas nessas duas décadas.

“Publicar ou perecer”?

“…Isso gera outra pergunta, formulada a partir de Signates (2013): o que é um aporte "propriamente comunicacional"? A ausência de um consenso mínimo a respeito das concepções básicas da Área, debate corrente no campo, sobretudo em Peruzzo (2002), Martino (20032005), Felinto (2007, Martino (2018), Pimenta (2011) ou Ferreira (2012, para mencionar apenas alguns, tende a se manifestar com força: um avaliador para quem um estudo "de comunicação" deve se dirigir à investigação sobre a mídia poderia recusar um artigo perfeitamente aceitável aos olhos de uma avaliadora com outra visão dos temas tratados pela comunicação; ao mesmo tempo, uma perspectiva amplamente inclusiva tenderia a colocar em xeque a especificidade de uma revista como sendo "de comunicação".…”

A comunicação dataficada das organizações: práticas comunicacionais das healthtechs brasileiras na pós-pandemia

“…Para Martino (2018), a pesquisa bibliográfica busca apresentar e investigar tendências sobre um determinado conceito, temática ou conceito. Lopes (2003, p. 143) nos recorda que: "o importante não é o que se vê, mas o que se vê com método".…”

“…Para Duarte (2005), elas compõem uma dinâmica flexível que busca a apreensão de uma realidade ou o entendimento de processos complexos nos quais determinados atores estão envolvidos. O autor reforça que a modalidade semiaberta é realizada por meio de questionários estruturados com perguntas idênticas a todos os entrevistados, para que seja possível, durante a fase de análise dos dados coletados, estabelecer mecanismos de uniformidade e comparação entre eles.. Martino (2018) suporta nossa escolha, dizendo que, na modalidade semiaberta, as questões, preparadas de antemão, guiam as entrevistas, mas não é preciso prender-se a elas. Como vantagens, os dados obtidos tendem a ser mais precisos e existe uma certa liberdade estabelecida pelo pesquisador dentro de determinados parâmetros.…”

“…A metodologia do nosso trabalho, além da pesquisa bibliográfica (GIL 2010;MARTINO, 2018;MARTINS E TEÓPHILO, 2016;OLIVEIRA 2001;STUMPF, 2003) é também composta por entrevistas em profundidade que, para Duarte (2005), se transformou em um clássico na obtenção de informações nas ciências sociais como técnica qualitativa que explora um assunto a partir das percepções e das experiências de informantes para uma análise posterior e estruturada. Um recurso metodológico para nossa pesquisa de campo, que busca recolher dados que serão ainda interpretados e reconstruídos em um diálogo com a realidade estudada.…”

“…Elas fazem parte de uma técnica dinâmica e flexível para descrição de processos complexos dos entrevistados a partir de um quadro conceitual previamente formatado. Para Martino (2018), as entrevistas são conversas estrategicamente orientadas para coleta de dados específicos e ligados aos 34 Do inglês Sistema de Saude em Tempo Real, tradução nossa. objetivos de pesquisa, constituindo uma relação com as alteridades.…”