Introduçãoproblema da desigualdade de gênero e da discriminação racial muitas vezes é desconsiderado em análises que examinam os fatores responsá-veis pelo quadro conjuntural do mercado de trabalho nacional. Aliás, é comum encontrar análises conjunturais que ignoram algumas características constitutivas do mercado de trabalho. Entretanto, os riscos diante do desemprego ou as possibilidades de combater a informalidade estão diretamente relacionados com o perfil da força de trabalho.Em 2015, à medida que a recessão econômica passou a afetar diretamente o mercado de trabalho nacional, aumentaram a taxa de desemprego e a porcentagem de ocupações informais, e ao mesmo tempo caiu o rendimento médio dos trabalhadores. De acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE), a taxa de desocupação das pessoas de dez anos ou mais de idade em seis áreas metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife) aumentou de 4,9% em julho de 2014 para 7,5% em julho de 2015. É importante ressaltar que o desemprego aberto aumentou mais para as mulheres do que para os homens: a taxa de desocupação masculina passou de 4,1% para 6,6%, enquanto a taxa feminina passou de 5,8% para 8,6% no mesmo período. Por sua vez, o rendimento médio real habitualmente recebido no trabalho principal sofreu uma pequena redução, entre julho de 2014 e julho de 2015, passando de R$ 2.223,90 para R$ 2.170,70 (no conjunto dessas metrópoles).Mas a gravidade dessa conjuntura desfavorável não está se distribuindo de forma homogênea, uma vez que os mais afetados são os trabalhadores mais vulneráveis do ponto de vista ocupacional, aqueles que são obrigados a exercer os trabalhos mais precários. Portanto, a atual crise econômica traz novamente ao centro das preocupações a questão da desigualdade crônica associada com a prevalência de um alto grau de precariedade no mercado de trabalho (tanto nas regiões metropolitanas como nas demais áreas urbanas).Vários estudos indicam que mulheres e negros têm mais dificuldade para obter uma inserção regular no mercado de trabalho, mesmo quando a economia cresce num ritmo forte. Por exemplo, em 2010, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego, a taxa de desemprego total dos trabalhadores negros mantinha-se superior à dos não negros (13,8% contra 10,2%), mas a taxa para