Este livro pretende contribuir com a discussão acerca das etnicidades, dos processos que as produzem e das relações étnico-raciais em interface com o campo da educação, especialmente da educação escolar. As Ciências Sociais, sobretudo a Antropologia e Sociologia, desde o século passado, têm se dedicado ao debate e constituído um campo, o das etnicidades e das relações raciais, o que resultou na consolidação, não somente de uma importante e vasta produção acadêmica, mas também de "diferentes tradições ou linhagens" e perspectivas teórico-metodológicas. Os livros "Teorias da etnicidade seguido de Grupos Étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth", de Philippe Poutignat e Jocelyne Steiff-Fenart (2011) 1 e "Etnicidade", de Steven Fenton (2005) 2 são dois bons exemplos desta vasta produção.As Ciências Sociais brasileiras, podemos afirmar, sem incorrer ao exagero, que se constituíram com e a partir dos estudos sobre relações raciais, também com suas diferentes "linhagens ou escolas", com destaque para as "escolas" paulista e baiana. Não nos cabe, aqui, recuperar a produção intelectual dessas escolas e de seus "representantes", posto que já é vasta a literatura que se dedicou a esse fim. Os livros "Raça, ciência e sociedade", organizado por Marcos Chor Maio e Ricardo Ventura Santos (1996) 3 e "Racismo e antirracismo no Brasil", de Antonio Sérgio Alfredo Guimarães (2009) 4 cumprem essa função.No campo da educação, em nosso país, as relações raciais e o debate sobre etnicidades e identidades ganham destaque a partir da década de 1980, firmando-se entre as décadas de 1990 e 2000. Como veremos em alguns dos capítulos que compõem este livro, o Movimento Negro Unificado, fundado em fins da década de 1970, se constituirá em um "ator político" importante, tanto na denúncia do nosso modelo de democracia racial, do racismo estrutural, das desigualdades e do genocídio que recaem sobre a população negra, quanto na elaboração de "pedagogias antirracistas", "decoloniais" e na formulação de políticas educacionais que culminarão na aprovação da lei 10.639/2003, que tornou obrigatório, ao longo de toda a educação básica, o ensino da História da África e da Cultura Afro-Brasileira. Ora, o Movimento Negro tem sido, como afirma Gomes (2017) 5 , educador da sociedade brasileira e produtor de saberes e epistemologias emancipatórias.Este livro, organizado em doze capítulos, apresenta resultados de pesquisas de docentes e pesquisadores que atuam na educação básica e no ensino superior. Dentre as instituições de ensino superior temos a