“…Falamos de um sentido produzido numa instância liminal, num lugar de fronteira, a meio caminho entre o interior e o exterior, o dentro e o fora, a "despersonalização" que na modernidade se associa à desafeção própria do dândi e o carácter poético, a experiência fenomenológica da cidade, estimulada por configurações espaciais e materiais singulares, como a rua, a vitrine, algumas das quais discutidas em Sansot (1973). Enquanto lugares de intervalo, situados entre a casa e o trabalho ou o espaço literalmente público, como é o caso da praça, os cafés podem ser entendidos como lugares "semipúblicos", tal como designados em diferentes investigações, investidas no estudo das relações entre os homens e as materialidades espaciais (Almeida, 2013), bem como no carácter politizado deste tipo de lugares, instigadores de tertúlias agenciadas por pensadores, escritores e filósofos, ou mesmo por revolucionários (Niedzielski, 2018). A reinvindicação do direito à cidade (Lefebvre, 2000(Lefebvre, /2012 e ao exercício da cidadania não se faz, assim, sem a recuperação da vocação social e identitária dos cafés (Lutard-Tavard, 2010).…”