A crescente interação entre os saberes da tradição e as ciências formais emerge como um relevante campo de investigação. Nessa perspectiva, o objetivo deste artigo é investigar as interseções entre a Física e os saberes da tradição nas práticas ceramistas da Vila Cuera, em Bragança, estado do Pará. Utilizando uma abordagem etnográfica, complementada por análise qualitativa, percebemos que os ceramistas se valem da intuição sensível e, com maestria, aplicam princípios termodinâmicos na produção de cerâmicas artesanais. Os resultados realçam o valor da Etnofísica, sublinhando que, muito antes da estruturação formal da ciência como a conhecemos, as sociedades tradicionais já praticavam e entendiam fenômenos naturais em sintonia com os princípios físicos contemporâneos. Conclui-se que há um vínculo inerente entre a Física e os saberes da tradição no que se refere à prática ceramista tradicional, fundamentado em observações empíricas e numa sabedoria ancestral que dialoga com a ciência em uma relação de complementaridade. O estudo evidencia a importância de valorizar e reconhecer os saberes das populações tradicionais ao destacar o saber/fazer das culturas e da ciência institucionalizada.