Nosso propósito é analisar, a partir das visões de personagens e do narrador de Vencidos e degenerados, livro originalmente publicado em 1915 por Nascimento Moraes, a natureza das disputas contidas no campo literário maranhense. Tomaremos por base três premissas formuladas por Pierre Bourdieu: o acúmulo de capitais; seus trânsitos e valores no campo; e os embates entre os “estabelecidos” e os “recém-chegados”. Para isso, levaremos em conta posicionamentos da fortuna crítica sobre o autor e sua atuação num contexto marcadamente racista e, assim, também teremos como apoio teórico as reflexões de Cuti. No livro, de um lado estão os “vencidos e degenerados”, vale dizer os negros, pobres, dotados de baixos capitais de ordem simbólica, econômica e, para o grupo rival, cultural. Tal grupo, também chamado no livro de “os que trabalham por necessidade”, é dotado de menores capitais, numa estrutura social herdeira da escravidão. Do outro lado, há o grupo formado pelos que “trabalham por vaidade”. Conforme estabelece a narrativa de Moraes, é formado por brancos descendentes de famílias herdeiras e beneficiárias da colonização e do escravismo. Ocupam posições de destaque na sociedade e na hierarquia econômica das profissões. A reflexão do texto literário aqui analisado deixa um recado: a entrada e a permanência do autor negro no campo literário maranhense são assinaladas por percalços vários e não enfrentadas por escritores de outros pertencimentos étnicos.