Este artigo tem como objetivo resgatar um importante debate levantado por Leon Trotsky em seu livro Literatura e Revolução (1924), que trata sobre a relação entre arte e política. O artigo pretende, portanto, utilizar a polêmica que havia no contexto em que a obra fora escrita (após a revolução russa de 1917) para pensar a relevância desse debate nos tempos atuais. Um dos temas centrais que interessa é discutir se é possível, ou não, a construção de uma arte proletária, em contraposição a uma arte burguesa, tal como era proposto por intelectuais e grupos culturais; posição esta que fora sendo adotada pelos dirigentes do Estado soviético, no sentido de definir uma suposta forma de fazer arte legitimamente proletária. A posição de Trotsky é a de que isto não é possível, inclusive o revolucionário se posiciona firmemente contra esta linha, que a seu ver expressa um conjunto de premissas equivocadas, contrárias aos princípios do marxismo, e que tinham como resultado um processo de castração da liberdade humana, que se intensificaria com o stalinismo, e também no fascismo, utilizando a expressão artística como mero instrumento de propagação de ideias políticas, de forma panfletária, impositiva e engessada, mutilando a liberdade de criação e, portanto, ferindo a fidelidade do artista ao seu eu interior, que era fundamental para a expressão artística. Este artigo pretende, portanto, tomar as bases teóricas apresentadas por Trotsky e pensar a influência nos dias de hoje das posições combatidas pelo autor naquele contexto.