O gênero do romance policial encontra o seu lugar de florescimento e de desenvolvimento na alta modernidade industrial, sendo fruto do fortalecimento da grande imprensa capitalista e da formação de um público já aclimatado ao consumo de massa. Nesse sentido, a literatura policial se situa no mesmo contexto de transformações estéticas e midiáticas da sociedade industrial de massa do século XIX, transformações ligadas à emergência dos novos meios da fotografia e do cinema e ao horizonte histórico do espectador moderno. O presente artigo pretende apresentar algumas considerações iniciais em torno da correlação entre a formação da literatura policial e a constituição da figura do espectador moderno, tendo como referência fundamental a “arqueologia da modernidade” de Walter Benjamin, em especial no seu ensaio A Paris do Segundo Império em Baudelaire. Para tanto, recorre-se, ao final, a uma leitura dos contos A janela da esquina de meu primo, de E.T.A Hoffmann, e O homem da multidão, de Edgar Allan Poe, como elaborações da figura do espectador moderno na literatura urbana do século XIX em conjunção com a lírica da metrópole moderna de Baudelaire.