RESUMO: Objetivo: O trauma da laringe é pouco freqüente. O objetivo do presente trabalho é avaliar os procedimentos e resultados no tratamento destas lesões. Método: Este trabalho baseou-se em estudo prospectivo de 35 de pacientes com trauma de laringe atendidos no período de janeiro de 1990 a abril de 2003. Resultados: A média de idade foi de 31,4 anos, sendo 30 pacientes (85,7%) do sexo masculino. O mecanismo predominante foi o trauma penetrante (30 casos -85,7%), a maioria causada por ferimento por projétil de arma de fogo (17 casos -48,6%). Dez pacientes (28,6%) necessitaram de intubação traqueal na admissão hospitalar e o valor médio do RTS foi de 7,28. As observações mais freqüentes no exame clínico das vítimas de trauma penetrante foram exposição de cartilagens da laringe (30%) e saída de ar pelo orifício do ferimento cervical (30%). Nos cinco pacientes (14,3%) com trauma contuso o achado mais freqüente foi enfisema subcutâneo (80%).O tratamento foi cirúrgico em 34 pacientes (97,1%), através de cervicotomia em colar na maioria dos casos (91,2%). A cartilagem tireóide foi a mais lesada (20 casos -57,1%). Em 33 pacientes operados a lesão foi tratada com sutura, associada a traqueostomia em 24 casos (72,7%). Lesões cervicais associadas ocorreram em 20 casos (57,1%), sendo mais comum as de veia jugular (10 casos). A média do ISS e do TRISS foram, respectivamente, 16,3 e 0,93. A morbidade relacionada diretamente à lesão laríngea foi de 34,3% (12 casos), sendo mais freqüente a disfonia (seis casos). Foi necessária a reexploração cervical em dois pacientes, um devido a abscesso cervical e outro, tardiamente, por estenose supra-glótica, este último tratado com molde. Dois pacientes apresentaram complicações tardias, um com disfagia e outro com disfonia. A mortalidade pós-operatória foi de 5,7% (dois casos), decorrente de complicações não relacionadas ao trauma laríngeo. Conclusão: A utilização de condutas padronizadas na abordagem do paciente com trauma de laringe, tanto no diagnóstico como no tratamento definitivo, resulta em menor taxa de seqüelas definitivas (Rev. Col. Bras. Cir. 2004; 31(6): 380-385
INTRODUÇÃOO trauma de laringe é raro, basicamente devido à posição anatômica desta estrutura, que é protegida naturalmente pela mandíbula na porção superior, lateralmente pelos músculos esternocleidomastóideos, inferiormente pelas clavículas e pelo manúbrio esternal, e posteriormente pela coluna cervical [1][2][3] . O mecanismo de lesão pode ser trauma penetrante ou contuso [1][2][3][4][5][6] . No trauma contuso, a hiperextensão cervical que pode ocorrer durante o impacto do condutor com um obstáculo, eleva o arco mandibular e expõe a laringe, tornando-a vulnerável. Em muitos casos, podem ocorrer lesões associadas, como trauma torácico, facial ou craniencefálico grave, que podem comprometer as vias aéreas superiores. As lesões associadas podem mascarar os sinais e sintomas decorrentes do trauma laríngeo e retardar o seu diagnóstico 3 . A abordagem diagnóstica deve avaliar a estabilidade respirató-ria e hemodinâmi...