Resumo: Neste artigo sustentarei a tese segundo a qual o título do livro Claro enigma (1951), de Carlos Drummond de Andrade, foi provavelmente extraído de um poema de Antônio Francisco Soares, poeta-militar, construtor de carros alegóricos e precursor dos carnavalescos. Após averiguar o poema de Soares (1786) dedicado ao Vice-Rei D. Luiz de Vasconcelos, examinarei os elementos carnavalescos e polifônicos observáveis nos poemas de Claro enigma. Entre esses elementos, estão o uso do solilóquio como modo de expressão do eu lírico, a recorrente rememoração da tradição poética de língua portuguesa, o "ritual de destronamento" do programa estético da poesia social, o uso reiterado de imagens biunívocas, as narrativas do "fantástico experimental", a tristeza como marca indelével do povo brasileiro e o caráter publicístico-jornalístico das composições. A maioria dos poemas de Claro enigma foi previamente exposta nos jornais da época antes da publicação em livro, o que acentua o caráter publicístico, reativo e circunstancial das peças. Finalmente, sustentarei a tese de que Claro enigma não foi um livro pensado de antemão, tampouco rigorosamente arquitetado, mas fez-se de modo improvisado, sem que houvesse a prefiguração de um arcabouço temático definido.