Longa duração e territorialidade da ocupação sambaquieira na laguna de Santa Marta, Santa Catarina

Abstract

Este trabalho versa sobre a ocupação da região da laguna de Santa Marta, litoral sul catarinense, por grupos construtores de sambaquis. O período considerado vai aproximadamente de 7.5 a 0.9 cal ka aP, ao longo do qual a região esteve continuamente ocupada pelos grupos sambaquieiros. O resultado mostra que a dinâmica do processo de construção de sambaquis na região pode ser dividida em fases, uma de expansão, entre 7.5 e 3.0 ka aP, e outra de retração, de 3.0 a 0.9 ka aP. Ao longo de todo o período percebe-se um padrão de agregação dos sítios, com a região sendo particionada e compartilhada por vários focos de ocupação. Este padrão de territorialidade se manteve ao longo do tempo. Palavras 26 ABSTRACTThis work deals with a study regarding the occupation of the region of Santa Marta lagoon, Santa Catarina southern coast, by sambaqui (shellmound) builders. The time span for such a continuous occupation runs from 7,5 to 0,9 ky cal BP approximately, during which the region was continuously occupied by the sambaquieiros groups. Results show that the dynamics of occupation exhibits two phases, one of expansion, between 7.5 and 3 ky BP, followed by a retraction between 3 and 0.9 ky BP. All through this long-standing occupation sequence, a nucleated settlement pattern can be discerned, with the area partitioned in a number of site aggregates distributed in a non-aleatory territorial pattern. This territorial partitioning has endured over time.

Population history of Brazilian south and southeast shellmound builders inferred through dental morphology

“…Therefore, the geographic structure observed in our analyses supports that most coastal societies were low-mobility groups. This statement corroborates previous suggestions based on the archaeological record that the occupation of the Brazilian coast was largely defined by low-mobility or even semi-sedentary populations (Bastos, 2009;DeBlasis et al, 1998;DeMasi, 2009;Kneip et al, 2018). This low-mobility pattern is also consistent with the high morphological diversity among Brazilian precolonial coastal populations (Hubbe, 2006;Hubbe et al, 2014;Neves, 1988;Okumura, 2007), as isolation between populations accentuates the accumulation of differences between regions over time (Relethford, 2004).…”

“…The shellmound builder phase lasted from 7 to 1 kya, and is defined by the presence of fisher-hunter-gatherer populations that built shellmounds in ecotone environments around lagoons, estuarine bays, and coastal islands (DeBlasis et al, 2007;Giannini et al, 2010). They were highly adapted to marine-related environments and have been inferred to be lowmobility groups, given their continuous occupation for thousands of years of several shellmounds, which could reach up to 30 m of height (Bastos, 2009;DeBlasis et al, 1998DeBlasis et al, , 2007Kneip et al, 2018). Here, we focus on shellmound builders from the states of Santa Catarina and Paran a, which have been included in several studies of morphological affinities in the past (Hubbe, 2006;Hubbe et al, 2009;Neves, 1988;Okumura, 2007).…”

Análises de mobilidade no litoral sul de Santa Catarina entre 2000-500 cal AP

“…A faixa temporal registrada para os sambaquis se estende entre 7500-1500 anos cal AP (DeBlasis, Farias & Kneip 2014), com ápice registrado entre 5000-2000 anos cal AP, período em que se verifica o aumento do número de sítios e de processos de complexificação social que se expressam, também, em intensa monumentalização funerária (Kneip, Farias & DeBlasis 2018). O período seguinte, a partir de 2000 anos cal AP, caracteriza-se pelo declínio da ocupação sambaquieira, verificado pela menor densidade de sítios ativos (Kneip, Farias & DeBlasis 2018) e por mudanças na composição estratigráfica, com a redução do uso de conchas e o aumento da deposição de sedimento arenoso escuro, rico em matéria orgânica (Bendazzoli 2007;Menezes 2009;Nishida 2007;Villagran, 2008Villagran, , 2012Villagran et al 2010). Essas alterações são registradas nas camadas superficiais de alguns sambaquis antigos, como o Jabuticabeira II (3165-1182 anos cal AP) (Bendazzoli 2007;Nishida 2007;Villagran 2008).…”

“…N o litoral sul de Santa Catarina, na região da paleolaguna de Santa Marta em Jaguaruna, os sambaquis são a ocupação mais antiga e longeva, com datas entre 7500 a 1500 anos AP (Assunção 2010;DeBlasis et al 2007;DeBlasis, Farias & Kneip 2014;Giannini et al 2010). As pesquisas realizadas no projeto Sambaquis e Paisagem constataram um declínio na construção de sambaquis entre 2000 e 1000 anos cal AP 2 (Kneip, Farias & DeBlasis 2018) associado às mudanças nos processos de formação 2…”

Arqueologia dos encontros no litoral sul de Santa Catarina: os sambaquis tardios e sítios Jê entre 2000 a 500 cal AP

“…Foram construídos por populações no passado a partir do acúmulo intencional de vestígios faunísticos, em especial conchas e ossos de peixes e mamíferos. O processo construtivo desses sítios, usualmente, resultou na formação de elevações que podem apresentar dimensões consideráveis no litoral sul de Santa Catarina, com até 20-30 m de altura e 400-500 m de comprimento/largura, como é o caso dos sambaquis Garopaba do Sul e Carniça I (Assunção, 2010, p. 76-77;Farias & Kneip, 2010;Farias, 2018).…”