A progressiva compreensão do papel primordial que as plaquetas desempenham na doença cardiovascular, particularmente em síndromes isquêmicas agudas, tem aberto grandes oportunidades terapêuticas em cardiologia [1][2][3][4] . Os bloqueadores do receptor plaquetário glicoproteína (GP) IIb/IIIa, que inibem a via comum da agregação plaquetária, possuem um grande potencial terapêutico em pacientes submetidos a intervenções coronárias e no manejo de síndromes coronárias agudas. O anticorpo monoclonal contra a GP IIb/IIIa, ou abciximab, tem sido extensivamente estudado em pacientes submetidos a intervenções coroná-rias 5-11 , sendo o primeiro de uma série de agentes a ser introduzido para o uso clínico. Um número expressivo de outros bloqueadores peptídicos e não peptídicos do receptor plaquetário GP IIb/IIIa também estão sendo avaliados em estudos clínicos de fase II e III [12][13][14][15][16][17][18][19] . Esta atualização tem por finalidade descrever como estes potentes agentes antiplaquetários atuam e discutir as situações clínicas em que há benefí-cio potencial ou demonstrado com o seu uso, baseado nos resultados de estudos clínicos randomizados. Adicionalmente, discutiremos o uso dos bloqueadores do receptor GP IIb/ IIIa em associação com stents em intervenções coronárias.
Síndromes isquêmicas agudas e os receptores GP IIb/IIIaA ruptura do endotélio sobre uma placa arteroscleróti-ca é responsável pela maioria das síndromes coronárias agudas. A exposição dos componentes subendoteliais inicia a cascata da coagulação e provê as condições para ativação plaquetária 20 . As plaquetas possuem receptores que interagem com glicoproteínas subendoteliais, como o colágeno e o fator von Willebrand, aderindo ao tecido vascular desprovido de endotélio. A adesão estimula a ativação plaquetária. As plaquetas ativadas sofrem modificações conformacionais com aumento da sua superfície e liberam agonistas como o tromboxano A 2 , a adenosina difosfato e a serotonina 21 . Estes agonistas, por sua vez, ativam outras plaquetas. As alterações conformacionais secundá-rias a ativação levam à exteriorização dos receptores GP IIb/ IIIa na superfície da membrana plaquetária [22][23][24] . Os receptores GP IIb/IIIa ligam-se a proteínas plasmáticas, como o fibrinogênio e o fator von Willebrand, determinando a agregação plaquetária 25 .A cascata da coagulação ativada leva a conversão do fibrinogênio à fibrina. A fibrina estabiliza as pontes que ligam as plaquetas, criando uma rede de plaquetas e fibrina. Paralelamente, a cascata da coagulação forma trombina, que é um potente ativador plaquetário, e amplifica o processo de agregação 26 . A trombina liga-se a hemá-cias e ao agregado plaquetário, formando um coágulo rico em plaquetas. Isto causa obstrução total ou parcial do fluxo sangüíneo através da artéria coronária acometida, causando isquemia miocárdica 27,28 .O receptores GP IIb/IIIa são os receptores mais abundantes na superfície plaquetária 29 . Eles pertencem a uma grande família de receptores, comumente denominados, "integrinas" 30,31 , qu...