A relação entre fibrilação atrial (FA) e tromboembolismo é conhecida de longa data. Em 1951, Raymond Daley et al. associaram com informações consistentes a ocorrência dessa arritmia a eventos embólicos sistêmicos em pacientes portadores de cardiopatia reumática crônica 1 . Nesse estudo envolvendo 194 portadores de cardiopatia reumática vítimas de tromboembolismo, contando com informações de autópsia em 39 pacientes, ficou demonstrada a presença de FA em cerca de 90% dos casos. O clássico estudo de Framingham, publicado em 1978, foi o primeiro grande estudo que estabeleceu essa mesma relação em indivíduos não reumáticos, demonstrando que os portadores de FA têm perto de seis vezes mais chances de apresentar um acidente vascular cerebral do que aqueles indivíduos livres de FA com características ajustadas para sexo, idade e pressão arterial 2 . A inclusão de indivíduos reumáticos elevou esse risco para algo em torno de 18 vezes. Desde essa importante publicação, diversos estudos corroboraram esses achados 3-7 .Na Tabela 1 são apresentados os resultados de cinco estudos envolvendo mais de 100 mil pacientes, que situam a prevalência de FA em pacientes vítimas de um acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) em torno de 15 a 40%. É bastante razoável contudo deduzir que, mesmo nos 60 a 85% dos pacientes que apresentam um AVCi sem o diagnóstico pregresso de FA, a prevalência da arritmia seja maior, considerando a possibilidade de arritmia assintomática não diagnosticada. Em revisão sistemática e metanálise de 32 estudos envolvendo cerca de 5.000 pacientes sem antecedentes de FA que sofreram um AVCi submetidos a monitoramento agressivo do ritmo cardíaco, por Holter de 24 h, Holter de 7 dias ou monitor de eventos implantável, demonstrou-se o diagnóstico de FA em cerca de 11% dos pacientes 8 . Portanto, a partir das informações obtidas nesses grandes estudos ao longo das últimas seis décadas, com resultados incorporados de significativa força e consistência de associação, o seguinte paradigma foi construído: "fibrilação atrial causa AVCi tromboembólico".