A o discutir a luta contra a tuberculose na Argentina, em particular em Buenos Aires, desde o final do século XIX, o historiador argentino Diego Armus focaliza, em La ciudad impura, os embates da população com a enfermidade; as metáforas em torno dos temas emergentes sobre saúde e doença; a literatura ficcional da época; os discursos médicos, higienistas, pedagógicos, políticos e urbanistas; as políticas de saúde postas em ação. A obra é resultado de anos de pesquisa de doutorado na Universidade da Califórnia, em Berkeley, sob orientação do historiador portenho Tulio Halperín Dongui. Não se trata de tese de doutorado que mais tarde simplesmente 'virou livro', mas sim de texto amadurecido pela trajetória de trabalho de um intelectual e forjada pelo tempo. Armus sugere, desde logo, que teria abandonado o projeto inicial de produzir a 'história total' da tuberculose em Buenos Aires para dedicar-se a produto modesto, acotado (p.11), limitado pelas fontes disponíveis entre 1870 e 1950. Aqui reside nossa discordância do autor, pois sobre o arcabouço das diferentes concepções sanitárias e metáforas sobre a enfermidade, das propostas e práticas de intervenção social, dos modos de vida e de padecimento da população, Armus escreveu texto que supera análises fragmentárias e confronta o leitor com um vasto painel histórico-social.A narrativa histórico-social articula Estado, políticas públicas, saberes, vida cotidiana e percepções da tuberculose. Faz uso de enorme gama de fontes primárias e secundárias, tais como depoimentos orais, textos literários, revistas médicas, relatórios oficiais, jornais de grande e restrita circulação, letras de tango, poesias e ensaios sociológicos e históricos.