No dia 8 de outubro de 2013, a 65ª edição da Feira do Livro de Frankfurt (FLF), na qual o Brasil foi o país homenageado, contou com o discurso de abertura proferido pelo escritor brasileiro Luiz Ruffato. 2 Constituído de 20 parágrafos nos quais o autor faz uma crítica das contradições e desigualdades sociais brasileiras, a repercussão do texto foi imensa, com manifestações favoráveis e contrárias circulando em jornais, blogs e redes sociais imediatamente após a divulgação das opiniões expressas pelo autor na ocasião.Essa proliferação de textos, opiniões, pequenos artigos ou comentários e especulações colocou em evidência o processo de reconfiguração, transformação e, inclusive, das novas possibilidades do debate cultural no campo da literatura, no contexto digital. 3 Ao mesmo tempo, aponta para uma de suas faces mais dinâmicas e menos especializadas, na medida em que deixa de constituir-se num debate de "poucos" para "muitos", visto que tais formatos proporcionam maior possibilidade de interação por parte do público em geral. Nisso, difere parcialmente do processo que, como lembra José Luís Jobim (2012), colocou a crítica no âmbito da indústria cultural, anteriormente, especialmente a crítica que se publica em jornais e revistas de grande circulação, apesar de seu espaço ser cada vez menor no cenário recente.1 Doutor em Letras e professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande, PB, Brasil. E-mail: alveswanderlan@yahoo.com.br 2 O texto integral do discurso de Ruffato na FLF pode ser lido em: . Acesso em: 12 abr. 2016. Por sua vez, o vídeo com o discurso está disponível em: . Acesso em: 20 dez. 2013. Agradecemos à Laeticia Jensen Eble, que conseguiu o vídeo junto aos organizadores da FLF e disponibilizou-o para acesso público. 3 Outro aspecto importante a esse respeito é que muitas das manifestações imediatas em relação ao discurso de Ruffato apareceram em redes sociais, especialmente o Facebook -como se verá em algumas citações apresentadas neste texto -, meios que abrigam gêneros textuais não acadêmicos, muitas vezes informais. Nesse sentido, a própria consideração de tais críticas por nós, neste estudo, requer um olhar delicado e, em certa medida, diferente do olhar sobre um artigo científico, pois se trata de textos que, em geral, estão mais explicitamente próximos das subjetividades de seus autores e de momentos particulares desse debate. Assim, representam, por vezes, impressões mais imediatas e potencialmente menos filtradas pelas políticas subjacentes aos debates acadêmicos nos formatos expressos em textos publicados em veículos institucionalizados (revistas acadêmicas, por exemplo). Seu tratamento requer um olhar respeitoso que, no entanto, não nos impede de lê-los criticamente.