“…Por mais estranho que pareça, a formulação do personagem tradicional (o arco, o conflito, o perfil social) se torna mais difícil de trabalhar e desenvolver do que o personagem dentro das desconstruções do drama moderno por se balizar em preceitos que têm mais a ver com a experiência do "narrar" histórias, o "story telling", muito trabalhado nos manuais aqui levantados. Pensar que ele pode ser uma sombra, um queixume, um pleito, uma voz, uma locução, um animal; acrescentando aí os deslocamentos dos pontos de enunciação, a polifonia, situações absurdas, o aqui-agora da cena (o contato direto com o espectador), tudo isso possibilita um amplo terreno de experimentação dentro dos encontros, por possibilitarem dinâmicas diversas, manipulações diversas, que trazem para os estúdios materiais de múltiplas naturezas... Pensando em como jogar com essas desconstruções, me veio a ideia de trabalhar dois conceitos: 1) o de máscara, em Abirached (1994), em La Crise du Personnage dans le Théâtre Moderne, pensandoo como um ser de palavras pelo qual se "fala através". A máscara não é uma representação de um rosto: mas linhas expressivas destacadas (aumentadas, esticadas, dilatadas etc) à espera de um ser que projete movimentos em tais linhas: "ela não precisa parecer para ser, mas ela espera, para se tornar o que é, que um rosto a preencha, como uma roupa que só encontra seu significado ao ser ocupada por um corpo (...)" (ABIRACHED, 1994, p. 20).…”