Resumo: "64-Brasil continua" foi um suplemento especial lançado pela Folha de S. Paulo em 31 de março de 1964 que procurava comemorar, com esperança e otimismo, os novos rumos da nação nas vésperas do golpe militar no Brasil. Este estudo tem como objetivo analisar as impressões da Folha sobre o golpe a partir da construção deste acontecimento nas páginas do suplemento e em suas opiniões editoriais, contrastando com algumas lembranças sobre o período, rememoradas por jornalistas e dirigentes do jornal sob outras conjunturas. Respaldadas por interpretações históricas sobre o tema, as lembranças daquele período auxiliaram a legitimar a imagem de uma empresa que mantinha posições impassíveis frente àquele conturbado cenário político. Entendendo a memória como um processo social e seletivo, procura-se aqui problematizar como se deu uma construção particular da história da empresa que procurou "utilizar" este passado sob uma forma que sutil e extrinsecamente acabou por direcionar a memória e o esquecimento.Palavras-chave: História; memória; imprensa; Folha de S. Paulo; ditadura militar. de Marzo de 1964 que buscaba celebrar, con esperanza y optimismo, los nuevos rumbos de la nación en la víspera del golpe militar en Brasil. Este trabajo tiene por objetivo analizar las impresiones de la Folha sobre el golpe a partir de la construcción de tal acontecimiento en las páginas del suplemento y en sus opiniones editoriales, en contraste con algunos recuerdos sobre el período rememorados por periodistas y dirigentes del periódico en otras coyunturas. Respaldada por interpretaciones históricas sobre el tema, los recuerdos de aquel periodo ayudaron a legitimar la imagen de una empresa que mantenía posiciones impasibles frente a aquel revuelto escenario político. Entendiéndose la memoria como un proceso social y selectivo, se busca aquí problematizar como se dio la construcción particular de la historia de una empresa que buscó "usar" este pasado de una forma que, sutil y extrínsecamente, terminó por direccionar la memoria y el olvido.Palavras-clave: Historia; memoria; prensa; Folha de S. Paulo; dictadura militar.A questão dos "usos do passado" tem tomado cada vez mais a preocupação dos estudiosos da comunicação em sua relação com a história e a memória (BARBO-SA, 2008). Preocupação não apenas epistemológica uma vez que, empiricamente, tem-se observado cada vez mais a efetiva utilização deste passado na pauta diária de textos da imprensa (CASADEI, 2010). Passado que a imprensa se utiliza para construir determinados acontecimentos sob visões particulares que, de tempos em tempos, acabam por se reconfigurar em conjunturas diversas.Nesta perspectiva, a mídia noticiosa se instaura como um importante "lugar" onde memórias se ancoram e cristalizam pois, infere-se aqui, a memória é essencialmente coletiva e social (HALBWACHS, 2004) mas está, acima de tudo, passível a confrontamentos e negociações (POLLAK, 1992). Memória é, portanto, identidade e a imprensa, ciente ou não, trabalha com ela nas constantes construções, reconstruções e reme...