Resumo: Este artigo apresenta uma leitura da obra literária A Costa dos Murmúrios, de Lídia Jorge, e de sua transposição cinematográfica, o filme homônimo de Margarida Cardoso, a partir de teorias feministas, principalmente de autoras pós-modernas. Ao abordar eventos passados na Guerra Colonial em Moçambique a partir de uma metaficção fragmentária, do ponto de vista de uma personagem feminina, A Costa dos Murmúrios constrói-se como uma contestação de discursos hegemônicos que se apresentam como relatos históricos fechados, definitivos e autoritários. Tanto a obra literária quanto a cinematográfica o fazem não apenas através da contestação do caráter de Verdade de discursos colonialistas, brancos e masculinos que tanto embasaram a legitimação da guerra colonial, quanto dominaram a construção histórica dos eventos passados; mas também a partir da exploração de recursos formais resistentes a convencionalidades dos seus media.
Palavras-chave: feminismo, transposição intermidial, pós-colonialismo, pós-modernismo, A Costa dos MurmúriosAbstract: This article presents a reading of the literary work A Costa dos Murmúrios, written by Lídia Jorge, as well as of its filmic transposition, the homonymous film by director Margarida Cardoso. Such reading will be done from a feminist perspective, especially based on postmodern feminist authors. In addressing past events of the Colonial War in Mozambique through a fragmentary metafiction and from the point of view of a female character, A Costa dos Murmúrios is built as a contestation of hegemonic discourses which appear as concluded, definitive and authoritative accounts of history. Both novel and film engage in this dispute not only 119