Este artigo pretende analisar a relação entre os usos e compartilhamento de água e a produção de famílias e parentesco no semiárido piauiense, em um bairro rural chamado Lagoa de Fora – localizado na cidade de São Raimundo Nonato, Piauí. A partir da descrição de estratégias de compartilhamento de água em um ambiente marcado por longos períodos de estiagem e com os aportes teóricos da Antropologia Rural e de uma perspectiva alquímica da produção de parentesco (Marques; Leal, 2018), propõe escrever uma etnografia sobre tecnologias de manejo de água (em barreiros, lagoas, poços, cacimbas, caldeirões, grotas, rios e barragens) e sua indissociável relação com a história de uma grande família, os Negreiros. Pretende mostrar a água, como substância e símbolo, que no semiárido piauiense e em especial em Lagoa de Fora, parece ser constitutiva para a produção de territorialidades, memórias e parentescos.